A Pipoca ficou encarregada de convocar no condomínio todos os cachorros para uma reunião extraordinária. Ordens da Lua! Assim fez e assim foi. Como os donos não deixariam os caninos saírem foi preciso montar um esquema de latidos informadores. Assim: a Lua latia pra cima e os demais iam repassando para os outros mais próximos. E estes mandariam as informações para os demais, até que todos tivessem recebido a mensagem. Um protótipo animal de satélite. Alta tecãonologia. usada para um momento histórico.
A Lua, em cima da máquina de lavar para poder ser vista pelos outros cachorros das demais áreas de serviço começou a explicar que logo todos os cachorros falariam com os humanos. A remessa das mensagens para os outros animais foi ficando cada vez mais intensa. O assunto era entusiasmante. Contudo, alguns não acreditaram.
- Como assim? Não acredito! disse Xinxila, o pequinês amiguinho da Lua do apartamento 25.
- É verdade Xinxila! Pesquisadores japoneses lançaram uma maneira de promover o diálogo entre os humanos e os cachorros. Como? Com um tradutor de latidos. A engenhoca recebeu o nome de Bowlingual Voice. Pode parecer coisa de desenho animado, aquele onde humanos e cachorros se falam. Na verdade trata-se de um aparelho que analisa a acústica dos sons emitidos pelo cão e os traduzem para palavras. O aparelho é produzido por uma empresa chamada Takara Tomy e detecta seis emoções diferentes, sendo as mais importantes a tristeza, a alegria e a frustração. E também associa sentimentos a frases como “brinque comigo”. O aparelho deve custar em torno de US$ 200 e será vendido no Japão ainda no ano de 2009.
- De onde você tirou tantas informações Lua? questionou Zeus, o fox paulistinha do 16.
- Ora! Eu sou uma grande pesquisadora, disse a branquinha, escondendo a “cola” debaixo da pata.
- Que mais tem sobre isso? perguntou Jujuba, a co-irmã da Lua em assuntos culinários.
- Por enquanto é só isso que vou falar. Mais tarde, num outro dia, falo mais. Agora estou cansadíssima! resmungou Lua que não admitia seu desconhecimento sobre o assunto, e se apavorou pela quantidade de perguntam que lhes faziam. Deixou todos muito curiosos.
Temerosa de abalar a sua imagem de pesquisadora canina lançou-se na tarefa de fuçar mais sobre o assunto. Começou folheando os jornais que vão servir para forrar o chão onde os cachorros todos fazem xixi. Enfiou-se na caixa de papelão e foi jogando todas as folhas pro alto. Uma bagunça enorme, mas que o papai, logo depois, arrumaria. Os pais são ótimos e arrumam todas as badernas que os cães fazem. Resmungam, gritam, esperneiam, mas arrumam. - E não entendem quando a gente pede desculpas! - resmungou a Lua.
- Se pelo menos eu pudesse pedir ajuda pra mamãe! suspirou a cadelinha.
Num momento de sorte encontrou num jornal a matéria sobre o assunto. Imediatamente chamou a Pipoca e ordenou – isso mesmo!!! ordenou – que ela convocasse nova reunião extraordinária.
- Mas Lua ... o pessoal acabou de desmanchar a rede do satélite canino! reclamou Pipoca.
- Nem quero saber! Isto é muuuuito importante! Vamos! Vamos! – disse Lua.
- Por que não falou naquela hora, Lua? – perguntou Jujuba que estava espreitando a branquinha e sabia que ela apenas tomara conhecimento das novidades depois de procurar nos jornais velhos.
- Porque eu não queria! Só isso! Nada além disso! – resmungou a cadelinha.
- Pipoca suspirou fundo e saiu em convocação da extra-extraordinária assembléia. Porém, ao contrário do que pensava, os amigos caninos correram para seus postos de retransmissão. Estavam excitadíssimos sobre o assunto.
- Caros amigos! Vou tirar as dúvidas de todos. O aparelho contém um microfone a ser colocado no pescoço do cachorro e um dispositivo que fica com seu dono.
Esse foi um ponto que a Lua não gostou. Ficou pensando como ficaria ridícula com a engenhoca em torno do seu lindo pescocinho branco. Amassaria seu laço de cetim. Além do mais, é bem possível que o Pingo fizesse piada disso. Já podia antever o cachorro amarelo rindo dela e gritando:
- Pamonha, pamonha, pamoooooonhaaaaaa!
Justamente para ela que só se interessa por pão de queijo! Ainda se fosse uma pamonha de queijo ralado, tipo parmesão!!!É! Mico puro e certo. Mesmo assim, continuou a contar como funciona o tradutor de auaus.
- Toda vez que o cachorro latir, o microfone grava o ruído e manda a informação para o dispositivo que está com o dono. Daí acontece a tradução do que o cão disse! E essa gravação acontece inclusive quando o dono estiver ausente. O primeiro aparelho que tentou traduzir os desejos caninos foi feito em 2002, no Japão, e apenas apontava, numa tela, as possibilidades de interpretação dos desejos caninos. Vendeu mais de 300 mil unidades.
- Quem quiser ver uma demonstração, disse a Lua, anote o link:
http://www.youtube.com/watch?v=ummUCShK_Wk
A movimentação canina foi imensa. Todos latindo ao mesmo tempo, afinal, falar com os humanos e ser entendido parecia o fim de um pesadelo. Alguns deles iriam saber – na verdade – o que seus cães pensam e sentem sobre os tratamentos que recebem. Fritz, o pastor belga do 36 já estava montando sua rede de contatos que seria o conselho de uma futura entidade de defesa da palavra do cão. Ele, o Fritz, seria o delegado. Outros grupos surgiram na hora, inclusive o dos defensores da abolição dos banhos.
Lulu ficou encantada ante a possibilidade de ser entendida pelo entregador de pizza delivery. Imagine ela acionando o cãolular, sendo atendida e pedindo dezenas de pizzas de carne moída?
Já a Lua pensou naquelas entregas especiais de salgadinhos.
- MARAVILHA!!!! Pão de queijo o dia todo, salivou a branquinha.
Aí o cãolular da Lua tocou: AUUUUU, AUUUUU.
- Aulô, diz Lua. Quem é?
- Sofia, Lua.
- Sofia?
- Sim, a cadela do Alexandre Rossi, aquele zootecnista que vive entre os bichos, conhecido como Dr.Pet.
- Sei sim. Assisto sempre ao programa onde ele ensina coisas pros humanos. Meus pais não faltam. Eu assisto junto pra vigiar se eles estão prestando atenção! Como vai você?
- Bem. Olhe, eu liguei porque estou sabendo do seu interesse entre essa tal de comunicação entre humanos e cães e ...
- Como é que você soube disso? perguntou a desconfiada Lua.
- Lua! Eu sou associada do satélite canino e entre cães não há segredos!.
- Isso é! ponderou a branquinha.
- Pois então. Acontece que o meu dono, o Alexandre, se comunica comigo. Nós batemos loooongos papos. Ele me entende! disse Sofia.
- É? disse a Lua, desconfiada de aquela canina tivesse querendo se mostrar. Não deixaria. Nunca. Pelos deuses dos pães de queijo, lutaria até o fim!!!
- Mas é verdade sim. O Alexandre (Rossi) fez um trabalho fantástico comigo, explicou Sofia. - Fui adotada por ele, que me encontrou abandonada na rua, ainda filhote (hoje tenho 7 anos) e começou um estudo para provar a capacidade do cachorro de se comunicar com o homem por meio de gestos. Montou um painel que “fala” frases assim: “estou com fome” ou “quero fazer xixi”. Aí eu aprendi a apertar a tecla do painel quando quero aquela coisa. Não precisamos de nenhum japonês para nos traduzir! Vamos no velho e bom idioma português.
- Que maravilha, exclamou a Lua. Imagine só euzinha no meu painel com muitas teclas onde conste a mensagem: QUERO PÃO DE QUEIJO AGORA.
De nada adiantou a Sofia argumentar que cachorro só pode comer ração! Lua já estava resolvida a fabricar seu painel. Dissolveu a assembléia e começou a procurar o material necessário para montar seu pãoinel de pão de queijo!
Marly Spacachieri
transcrito@yahoo.com.br
Fonte de pesquisa: O Estábulo de São Paulo – Centro Acadêmico Moacyr Rossi Nilsson – FMVZ/USP – agosto de 2009.