terça-feira, 30 de junho de 2009

BIM - UM CASO, UM ACASO, UM CÃO




Ele me procura todas as vezes que sente falta de alguma coisa. Vem de mansinho, sorrateiro, silencioso. Fica quieto, me olhando, esperando. Aguarda – olhando fixamente – porque tem a certeza que vai ganhar o que pretende. E eu fico na espreita pensando no que será que ele quer. Pode ser um osso, um pentear no pêlo, um afago ou mesmo uma bolinha de papel para mastigar. Mas, tem dias em que ele apenas quer ficar perto. Chega, deita e se aninha. Coloco o som ameno. Eu trabalho e ele dorme. Acorda depois de horas, come meu pedaço de queijo, estica-se todo, levanta o focinho e sai da sala, todo feliz, abanando sua cauda para quem o encontre pelos corredores. Desce a rampa correndo, às vezes latindo, assustando uns pouquíssimos transeuntes. Deita-se no meio do saguão. Passo e me despeço. Vai comigo até o carro, lambe minhas mãos e volta para perto dos vigilantes do prédio. Esse é o nosso Bim, um cão SRD que foi abandonado no campus da USP – capital – em 11 de setembro de 2001 e que hoje é nosso cão-propaganda. A Lua morre de ciumes dele.

UMA BOLINHA PELUDA - zummmmmmm - CORRENDO PELA RUA

Corria o ano de 1997, final do mês de novembro. Num determinado dia saímos atrasadíssimos para atender a um cliente. No caminho decidimos mudar o roteiro já que a Av. Rebouças sempre é muito congestionada. Pois bem! Foi aí que tudo aconteceu. Na Av. Francisco Morato esquina com a Av. J. J. Saad resolvemos virar à direita. Pista do meio, carro na frente, nos lados e atrás. O da frente freou e saiu para a esquerda, assustando todo mundo que freou junto. Na nossa frente uma cena: um cachorrinho minúsculo, correndo feito louco pelas ruas, sem saber para onde ir. Logo adiante a avenida bifurca-se e o danadinho seguiu por lá. Bobagem dizer onde estávamos nesse momento, certo? Correndo feito loucos. Chamamos a atenção de uma viatura da polícia de trânsito que saiu atrás de nós.Ficou assim: o cachorrinho correndo, nós atrás e a polícia finalizando o cortejo. O Morumbi é o bairro de maior concentração de renda do país, mas têm favelas, vielas e ruas sem asfalto. E foi numa dessas ruas que ele, o cachorrinho, seguiu. Sai do carro e passei a correr feito louca. Um calor dos diabos! 15 horas! Enquanto isso, o Magno fazia acrobacias fantásticas com o carro, tentando chegar para onde eu corria. E aí eu olhei para o lado e vi uma policial correndo atrás de mim. Era só o que me faltava! Eu estava sem bolsa, sem documentos, sem fôlego, sem nada. Corri mais ainda. Bronquites à parte, eu corria mais que ela. E o cachorrinho correndo na frente.Nessa altura éramos um espetáculo. O cachorro corria, eu ia atrás e a policial me seguia par-e-passo. Atrás disso: Magno manobrava o carro, seguido de perto pelo carro da polícia. E todo mundo na rua olhando... estranhando.... até que o cachorrinho parou, olhou e entrou numa casa. Uma mansão! Parei. A policial parou e me disse:
- "É seu?"
Respondi que não, mas que se continuasse solto fatalmente iria morrer atropelado. Era um filhotinho de poodle lindo. Ela me olhou e disse:
- "E agora? o que a gente faz?"
Decidimos tocar a campainha. Fomos atendidas por uma senhora muito simpática que ao ouvir a história imediatamente nos mandou entrar e procurar o cãozinho. Magno e a polícia chegaram. O espetáculo estava montado porque o cachorrinho não deixava ninguém se aproximar, ameaçando fugir dali. Melhor não correr riscos! Mas notamos que ele estava machucado, pois havia sangue em seu pêlo. De repente, saído não se sabe da onde surgiu um indivíduo dizendo-se o dono do cachorro e que iria retirá-lo. A senhora perguntou o nome do cachorro e o rapaz se atrapalhou todo. Ela alegou que ele não era o dono coisa nenhuma e que não o deixaria entrar. A viatura policial chamou a atenção das pessoas que foram se aproximando. O indivíduo tentou "forçar" sua entrada, ato reprimido pela policial que educadamente o lembrou que a casa era daquela senhora. O homem olhou a policial de cima a baixo e com um sorrisinho disse
- "Veremos!".
Nesse momento ouvimos um sonoro:
- "Peço reforço, tenente?"
Era o motorista da viatura, modelo armário com maleiro e tudo! Sorrindo, a policial disse:
- "Ainda não, mas fique atento!"
Mas não havia jeito de chegar perto do filhote. Ele tremia e chorava baixinho. Estava exausto. A senhora ligou para o veterinário que se dispôs a vir imediatamente. Contudo apareceram dois rapazes, muito bem vestidos, numa Ranger, óculos escuros, e tal e coisa .... e se dizendo donos do cachorrinho. Mesma pergunta:
- "Qual o nome?"
- "Bob", respondeu prontamente um deles.
E o tal de Bob sequer lhe deu atenção. A policial pigarreou, olhou para os dois e disse:
- "Vamos falando a verdade".
O rapaz ia falar algo quando o nosso amigo armário veio com mais um
- "Posso chamar reforço, tenente? "
A policial olhou, pensou e disse:
- "Chame o Corpo de Bombeiros, pois eles são os melhores nisso".
Gente, parecia que todas as pulgas do mundo tinham pulado nos dois jovens garotões. Não havia frontline para combater aquilo. Ficaram brancos, verdes, amarelos e quando iam azular.... suspiraram e disseram:
- "Não, por favor, bombeiro não! A gente conta tudo".
Explicaram que eram donos de uma loja de banho e tosa e que o cachorrinho havia escapado de lá. Pois bem! O danadinho fugiu porque levou "uns tapinhas" para ficar quieto. Estávamos a pelo menos 1 quilômetro da tal loja. Eles queriam pegá-lo e devolvê-lo a dona, e tudo terminaria bem. A policial pensou, olhou para eles e disse:
- "Chame a dona do cachorro aqui".
- "Ah, mas não dá!"
- "Não? Jorjão, chame os bombeiros!"
Imediatamente, saído do nada surgiu um celular já sendo discado para a dona.Em menos de 15 minutos encostou um carro e desceu uma moça gritando feito louca:
- "Floc, onde está o meu Floc?"
E a bolinha peluda, mancando um pouquinho, saiu daquele esconderijo e pulou no colo dela. A moça ficou como louca. Era amiga dos rapazes e entregara o Floc aos seus cuidados. Não pensou duas vezes e jogou a bolsa em cima deles. Jorjão entrou e apartou a briga. Nesse instante chegou o veterinário amigo da senhora que examinou o cachorrinho. Sugeriu um exame mais apurado, mas pelo que via tratava-se de um pequeno corte apenas. Suspiros de alívio.Bom, missão cumprida, trocamos telefones, tomamos um cafezinho e cada um seguiu para o seu lugar. O cliente nosso? Sabe que o danado ficou retido num congestionamento por mais de duas horas (carga tombada na marginal) e chegamos juntos. Fechamos o negócio. Cachorro é tudo de bom!

Marly Spacachieri
transcrito@yahoo.com.br