terça-feira, 30 de junho de 2009

BIM - UM CASO, UM ACASO, UM CÃO




Ele me procura todas as vezes que sente falta de alguma coisa. Vem de mansinho, sorrateiro, silencioso. Fica quieto, me olhando, esperando. Aguarda – olhando fixamente – porque tem a certeza que vai ganhar o que pretende. E eu fico na espreita pensando no que será que ele quer. Pode ser um osso, um pentear no pêlo, um afago ou mesmo uma bolinha de papel para mastigar. Mas, tem dias em que ele apenas quer ficar perto. Chega, deita e se aninha. Coloco o som ameno. Eu trabalho e ele dorme. Acorda depois de horas, come meu pedaço de queijo, estica-se todo, levanta o focinho e sai da sala, todo feliz, abanando sua cauda para quem o encontre pelos corredores. Desce a rampa correndo, às vezes latindo, assustando uns pouquíssimos transeuntes. Deita-se no meio do saguão. Passo e me despeço. Vai comigo até o carro, lambe minhas mãos e volta para perto dos vigilantes do prédio. Esse é o nosso Bim, um cão SRD que foi abandonado no campus da USP – capital – em 11 de setembro de 2001 e que hoje é nosso cão-propaganda. A Lua morre de ciumes dele.

UMA BOLINHA PELUDA - zummmmmmm - CORRENDO PELA RUA

Corria o ano de 1997, final do mês de novembro. Num determinado dia saímos atrasadíssimos para atender a um cliente. No caminho decidimos mudar o roteiro já que a Av. Rebouças sempre é muito congestionada. Pois bem! Foi aí que tudo aconteceu. Na Av. Francisco Morato esquina com a Av. J. J. Saad resolvemos virar à direita. Pista do meio, carro na frente, nos lados e atrás. O da frente freou e saiu para a esquerda, assustando todo mundo que freou junto. Na nossa frente uma cena: um cachorrinho minúsculo, correndo feito louco pelas ruas, sem saber para onde ir. Logo adiante a avenida bifurca-se e o danadinho seguiu por lá. Bobagem dizer onde estávamos nesse momento, certo? Correndo feito loucos. Chamamos a atenção de uma viatura da polícia de trânsito que saiu atrás de nós.Ficou assim: o cachorrinho correndo, nós atrás e a polícia finalizando o cortejo. O Morumbi é o bairro de maior concentração de renda do país, mas têm favelas, vielas e ruas sem asfalto. E foi numa dessas ruas que ele, o cachorrinho, seguiu. Sai do carro e passei a correr feito louca. Um calor dos diabos! 15 horas! Enquanto isso, o Magno fazia acrobacias fantásticas com o carro, tentando chegar para onde eu corria. E aí eu olhei para o lado e vi uma policial correndo atrás de mim. Era só o que me faltava! Eu estava sem bolsa, sem documentos, sem fôlego, sem nada. Corri mais ainda. Bronquites à parte, eu corria mais que ela. E o cachorrinho correndo na frente.Nessa altura éramos um espetáculo. O cachorro corria, eu ia atrás e a policial me seguia par-e-passo. Atrás disso: Magno manobrava o carro, seguido de perto pelo carro da polícia. E todo mundo na rua olhando... estranhando.... até que o cachorrinho parou, olhou e entrou numa casa. Uma mansão! Parei. A policial parou e me disse:
- "É seu?"
Respondi que não, mas que se continuasse solto fatalmente iria morrer atropelado. Era um filhotinho de poodle lindo. Ela me olhou e disse:
- "E agora? o que a gente faz?"
Decidimos tocar a campainha. Fomos atendidas por uma senhora muito simpática que ao ouvir a história imediatamente nos mandou entrar e procurar o cãozinho. Magno e a polícia chegaram. O espetáculo estava montado porque o cachorrinho não deixava ninguém se aproximar, ameaçando fugir dali. Melhor não correr riscos! Mas notamos que ele estava machucado, pois havia sangue em seu pêlo. De repente, saído não se sabe da onde surgiu um indivíduo dizendo-se o dono do cachorro e que iria retirá-lo. A senhora perguntou o nome do cachorro e o rapaz se atrapalhou todo. Ela alegou que ele não era o dono coisa nenhuma e que não o deixaria entrar. A viatura policial chamou a atenção das pessoas que foram se aproximando. O indivíduo tentou "forçar" sua entrada, ato reprimido pela policial que educadamente o lembrou que a casa era daquela senhora. O homem olhou a policial de cima a baixo e com um sorrisinho disse
- "Veremos!".
Nesse momento ouvimos um sonoro:
- "Peço reforço, tenente?"
Era o motorista da viatura, modelo armário com maleiro e tudo! Sorrindo, a policial disse:
- "Ainda não, mas fique atento!"
Mas não havia jeito de chegar perto do filhote. Ele tremia e chorava baixinho. Estava exausto. A senhora ligou para o veterinário que se dispôs a vir imediatamente. Contudo apareceram dois rapazes, muito bem vestidos, numa Ranger, óculos escuros, e tal e coisa .... e se dizendo donos do cachorrinho. Mesma pergunta:
- "Qual o nome?"
- "Bob", respondeu prontamente um deles.
E o tal de Bob sequer lhe deu atenção. A policial pigarreou, olhou para os dois e disse:
- "Vamos falando a verdade".
O rapaz ia falar algo quando o nosso amigo armário veio com mais um
- "Posso chamar reforço, tenente? "
A policial olhou, pensou e disse:
- "Chame o Corpo de Bombeiros, pois eles são os melhores nisso".
Gente, parecia que todas as pulgas do mundo tinham pulado nos dois jovens garotões. Não havia frontline para combater aquilo. Ficaram brancos, verdes, amarelos e quando iam azular.... suspiraram e disseram:
- "Não, por favor, bombeiro não! A gente conta tudo".
Explicaram que eram donos de uma loja de banho e tosa e que o cachorrinho havia escapado de lá. Pois bem! O danadinho fugiu porque levou "uns tapinhas" para ficar quieto. Estávamos a pelo menos 1 quilômetro da tal loja. Eles queriam pegá-lo e devolvê-lo a dona, e tudo terminaria bem. A policial pensou, olhou para eles e disse:
- "Chame a dona do cachorro aqui".
- "Ah, mas não dá!"
- "Não? Jorjão, chame os bombeiros!"
Imediatamente, saído do nada surgiu um celular já sendo discado para a dona.Em menos de 15 minutos encostou um carro e desceu uma moça gritando feito louca:
- "Floc, onde está o meu Floc?"
E a bolinha peluda, mancando um pouquinho, saiu daquele esconderijo e pulou no colo dela. A moça ficou como louca. Era amiga dos rapazes e entregara o Floc aos seus cuidados. Não pensou duas vezes e jogou a bolsa em cima deles. Jorjão entrou e apartou a briga. Nesse instante chegou o veterinário amigo da senhora que examinou o cachorrinho. Sugeriu um exame mais apurado, mas pelo que via tratava-se de um pequeno corte apenas. Suspiros de alívio.Bom, missão cumprida, trocamos telefones, tomamos um cafezinho e cada um seguiu para o seu lugar. O cliente nosso? Sabe que o danado ficou retido num congestionamento por mais de duas horas (carga tombada na marginal) e chegamos juntos. Fechamos o negócio. Cachorro é tudo de bom!

Marly Spacachieri
transcrito@yahoo.com.br













quinta-feira, 25 de junho de 2009

BOAS NOTÍCIAS QUE VAMOS ACOMPANHAR PATA A PATA, DIZ PIPOCA PARA A SUA FLOR


O Prefeito Gilberto Kassab anunciará, nos próximos dias, uma série de medidas para aprimorar o controle de animais domésticos na cidade de São Paulo e incentivar a propriedade responsável. Esta boa notícia foi recebida hoje, dia 22 de junho, pelo vereador Roberto Trípoli (PV), que vem mantendo uma série de contatos com a Secretaria da Saúde e com a Secretaria de Governo, reivindicando a intensificação de ações que promovam o controle das superpopulações de cães e gatos, sem qualquer tipo de sofrimento para os animais.Segundo Tripoli, o Prefeito Kassab anunciará todos os detalhes da destinação da verba de R$ 1 milhão provenientes de emenda que o vereador conseguiu aprovar, no final de 2008, para o orçamento/2009, especificamente para melhorias no Centro de Controle de Zoonoses. Esta emenda já está liberada e sua principal aplicação atenderá uma antiga reivindicação de Tripoli e do movimento de proteção animal – a construção de um Centro de Adoção, adequadamente planejado para abrigar cães e gatos já preparados para adoção. As obras devem começar em agosto.
Além disso, neste “pacote” de medidas, Kassab deve incluir o aumento do número de veterinários e biólogos contratados pela Saúde; a ampliação imediata da quantidade de castrações gratuitas disponibilizadas pelo Governo Municipal para animais de proprietários carentes; o incremento das ações visando o incentivo da propriedade responsável – inclusive uma campanha publicitária. Tripoli, que instituiu e vem presidindo a Comissão de Estudos sobre Animais na Câmara Municipal, foi informado, ainda, que a Prefeitura deve, finalmente, implantar um sistema de informações eficiente, com um banco de dados informatizado, que comporte o registro e a identificação individualizada de cães e gatos de toda a cidade de São Paulo; e iniciar a compra de microchips.
Outras informações:
Regina Macedo – jornalista ambientalAssessora Parlamentar do Gabinete do Vereador Roberto Trípoli (PV)Fones - 11-33964463 / 9627-7187reginamacedo@terra.com.br

terça-feira, 23 de junho de 2009

TEMOS DIREITOS!!!!!

Esta é a Bisteca, vítima de maus tratos (foi jogada da janela do carro, EM MOVIMENTO, pelo seu "dono" numa das avenidas da Cidade Universitária/USP. O carro de trás a atropelou. Foi socorrida por um funcionário. Fraturou a bacia. Hoje está tratada e voltando a andar. Alegre, mansa e muuuuito doce.Aguarda alguém para adotá-la. A Lua pode explicar como, a quem se interessar, pelo e-mail:
transcrito@yahoo.com.br com o título BISTECA

CONHEÇA OS INSTRUMENTOS LEGAIS

Constituição Federal
Capítulo VI
VI - DO MEIO AMBIENTE (ART. 225)
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:
(...)
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais a crueldade.
DECRETO FEDERAL Nº 24.645, de 10 de julho de 1934
Art. 3º - Consideram-se maus tratos:
(...)
V - abandonar animal doente, ferido, extenuado ou mutilado, bem como
deixar de ministrar-lhe tudo que humanitariamente se lhe possa prover,
inclusive assistência veterinária;
LEI MUNICIPAL 13.131/01 ( Válida para a cidade de São Paulo)
Art. 30 - São considerados maus-tratos contra cães e/ou gatos:
a) submetê-los a qualquer prática que cause ferimentos, golpes, sofrimento
ou morte;
b) mantê-los sem abrigo, em lugares impróprios ou que lhes impeçam
movimentação e/ou descanso, ou ainda onde fiquem privados de ar ou
luz solar, bem como alimentação adequada e água, assim como deixar
de ministrar-lhe assistência veterinária por profissional habilitado,
quando necessário;
c) obrigá-los a trabalhos excessivos ou superiores às suas forças, ou castigálos,
ainda que para aprendizagem e/ou adestramento;
d) criá-los, mantê-los ou expô-los em recintos exíguos ou impróprios, bem
como transportá-los em veículos ou gaiolas inadequados ao seu bem-estar;
e) utilizá-los em rituais religiosos, e em lutas entre animais da mesma espécie
ou de espécies diferentes;
f) deixar de socorrê-los no caso de atropelamentos e/ou acidentes
domésticos;
g) provocar-lhes a morte por envenenamento;
h) abatê-los para consumo;
i) sacrificá-los com métodos não humanitários;
j) soltá-los ou abandoná-los em vias ou logradouros públicos.
Parágrafo único – A critério do agente sanitário do órgão municipal
responsável pelo controle de zoonoses, outras práticas poderão ser definidas
como maus-tratos, mediante laudo técnico.
LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998.
Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.
CAPÍTULO V
DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE
Seção I
Dos Crimes contra a Fauna
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais
silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou
cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando
existirem recursos alternativos.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do
animal.

Regina Macedo – jornalista ambiental, assessora parlamentar,
reginamcedo@terra.com.br / 11-96277187 / São Paulo / SP

terça-feira, 16 de junho de 2009


A HISTÓRIA DO TOQUINHO



Era uma vez...
... um duende que queria ser gente. Queria porque queria! Insistia, pedia para o duende-chefe e nada! Um dia, depois de tanto chorar apareceu uma fadinha bonitinha, peluda, de longa cauda que, penalizada com o pobre duende disse-lhe:- Se você quiser ser gente precisa passar no teste!- Que teste, respondeu o duende choroso.- Ser amado antes de ser gente.- Como assim!, perguntou o duende.- Simples. Eu transformo você num bicho e você sai pelo mundo dos homens. Se conseguir ser amado, se conseguir sensibilizar um coração, se conseguir com que aceitem você com todos os seus poréns... poderá se transformar em gente.
O duende aceitou o desafio. De cara foi transformado num cão. Um cão vira-lata, de rua, bem danadinho, de olhar meigo e doce. E claro que caiu numa cidade de Minas (pois a mineirada adota tudo quanto é cão que aparece, sô!) para ter mais chances. Teve sim. No primeiro dia estranhou aquele negócio de ter que levantar a pata para fazer xixi! E aquele cocô público? Santa vergonha! E pulgas? E coceira? E aquela cadelinha no cio provocando situações constrangedora? Santos caldeirões mágicos! Que coisa! Roer osso? Logo ele que adorava frutas silvestres? Comida estranha essa que os humanos comem... mas até que a tal feijoada é boa sim (não fosse o resultado posterior... auuuuuuu).
Passeando pelas ruas conheceu outros animais e conversou, cochilou ao sol, sofreu empurrões e afagos. Foi tomando gosto pela vida de cão. Uma velhinha aqui... um garotinho ali..... a casa da Marcinha..... tudo no seu tempo. Sofreu abalos sim! Foi machucado e maltratado como todo cachorro de rua, mas encontrava sempre o tapete, a água e a comida gostosa naquela casa ampla. E o sorriso sincero da menina. Apaixonou-se por ela! Amor correspondido na hora.
Numa tarde de sol surge a fadinha peluda e lhe informa que já podia se transformar em gente pois tinha conseguido ser verdadeiramente amado. Duende, já chamado de Toquinho, meio manquitola, sentiu um aperto no coração canino. Se se transformasse em gente, será que a menina continuaria a amá-lo? E onde renasceria? Nada lhe garantiam sobre isso! Pensou muito (e rápido porque cachorro pensa muuuuuito rápido!!!) e decidiu continuar cachorro.- Mas não pode, disse a fadinha peluda. Está escrito na sua ficha que deve ser transformado em gente ou volta a ser duende.
Que desespero tomou conta do Toquinho! Pelos ossos sagrados ..... que fazer? Não queria e não queria deixar de ser cachorro. Isso era problema da fada e ela que se arranjasse pois ele ficaria cachorro. AU!
A fadinha peluda pensou, pensou e resolveu consultar seu micro de bolso. Entrou na internet das fadas.com.br e falou com a fadona principal - a fadamaster. A resposta veio pelo satélite fadal1. Se o duende... quer dizer o cachorro... quer dizer.... o Toquinho quiser continuar cachorro ele tem que morrer essa vida de duende-cachorro sem se transformar e renascer só cachorro.
Imediatamente Toquinho correu na frente do carro e se jogou. Seu corpo ficou ali, mas ele, invisível como todos os cães que vão renascer, foi colocado pela fada peluda dentro de uma barriga canina onde filhotes estavam sendo formados. Vai renascer em breve e bem pertinho da menina. Está ansioso e me pediu para contar isso para ela. Como reconhecê-lo? Ela saberá quando o encontrar e o olhar. É sempre assim no mundo mágico dos cachorros.
E a menina, o Toquinho, a cidade e o mundo das pessoas que são corajosas o suficiente para se exporem ao amor dos animais, serão novamente felizes.

terça-feira, 2 de junho de 2009

PATINHAS ON LINE - UM TRABALHO SÉRIO



A LUA PEDE ATENÇÃO DE TODOS PRA ESTE TRABALHO MUITO SÉRIO E LINDÍSSIMO
Quem puder ajudar ..... muitos focinhos agradecem
.

PÃO DE QUEIJO DE NATAL

Dias destes a Lua ficou presa na biblioteca lá de casa. Eis o seu relato:

Entrei sorrateiramente procurando um livro de receitas mineiras, em busca do pão de queijo perfeito... aí fecharam a porta e não perceberam. Esperei ... esperei ... e acabei dormindo em cima da almofada onde a Chica, minha irmã mais velha, dorme enquanto minha mãe escreve. Estava quentinho. Acordei com o barulho de papel sendo mexido. Levei um susto porque era um monte de livros se movimentando de lá e cá. Perguntei o que acontecia e eles me explicaram que na calada da noite, nas horas mais calmas, eles colocam todas as histórias em ordem. Os seres humanos vivem misturando todas e ao final do dia é o maior reboliço. Ninguém entende nada de nada. Naquele momento estavam arrumando a história do Natal. Fiquei curiosa e pedi para me contarem. O livro mais velho olhou para o mais jovem e disse:
- Conte você. Minhas páginas já estão muito amareladas.
O livro jovem, que se apresentou como sr.Livro abriu as páginas, folheou-as e parou onde estava escrito: Tudo sobre o Natal.
- Como assim?, disse eu. – O Natal é apenas um dia em que o Papai Noel vem!
- Nada disso! Também tem presentes e comidas especiais mas é uma data lotada de tradições que se misturam.
- Tradições misturadas? Como na batedeira? Aquela que faz zuuuummmm?
- Vou te explicar. Acomode-se nessa almofada, disse sr.Livro.
E começou ali uma viagem inesquecível sobre o Natal e tudo o mais que o cerca. Lua ficou atenta, com as orelhas em pé e se aproveitou da proximidade do gravador da mãe e ficou registrando tudo que ouviu. Dali saiu o relato abaixo cuja responsabilidade é total e irrestrita dessa cadela branquinha.
ATENÇÃO: GRAVANDOOOOO
“A primeira coisa que aprendi foi que a palavra “Natal” refere-se acima de tudo ao nascimento de Jesus Cristo, mas não consta nas páginas da Bíblia. Isso quer dizer que a palavra surgiu depois dele ter nascido, depois de terem escrito a Bíblia e reproduzido o seu texto. Interessante isso! O fato aconteceu, mas a nomeação sua se deu séculos depois, lá no de número quatro. Parece que foi a Igreja Católica Romana que batizou o nascimento de Cristo com o nome de Natal. Isso quer dizer que durante trezentos ou quatrocentos anos não houve festa de Natal. (Nooooossaaaaaa! E onde se punha os presentes? E o Papai Noel? E o boneco de neve? Onde ficavam todos?) O livro me explicou que o primeiro nó aconteceu com essa data estipulada: 25 de dezembro. Isso porque os calendários não eram precisos e nem contavam os dias de forma científica. Em muitos lugares os meses eram lunares e os anos duravam menos que os atuais. Vixessanta! Bom ... o que interessa é que avisaram Papai Noel que ele tinha que trazer todos os presentes no dia 25 de dezembro. O livro me olhou por detrás das lentes grossas de seus óculos e com cara muito séria. Fechando suas páginas e dando um grande suspiro, o livro me explicou que o que acontecia no dia 25 de dezembro era uma festa pagã que comemorava o nascimento do deus Sol.
- Mas o que é festa pagã?
- Festa não religiosa, normalmente acompanhadas de bebidas e orgias.
- Bebida eu sei o que é, mas orgia ... sei não.
O livro continuou falando:
- Deixe pra lá, Lua. Aprenda que todos devem ficar longe das orgias. Houve uma série de discussões entre os seguidores das palavras de Cristo e os demais, incluindo muitos pagãos convertidos e chegaram a um acordo: o dia 25 de dezembro seria o melhor para comemorar o nascimento do filho de Deus, já que o Sol era o mais importante deus dos pagãos. Estava aberta a porta para a entrada do Natal pelo mundo, agora como sinônimo de comemoração ao nascimento de Cristo.
- Mas peraí! Onde entra a árvore de Natal? – falou a Lua.
- Vem da Babilônia, disse ele o Sr.Livro e, antes que ela perguntasse onde era a tal Babilônia .... deu-lhe um mapa. Era longe. Muito longe.
- Puxa vida! A única Babilônia que eu conheço é a gaveta de meias da minha mãe. Meu pai sempre diz que ela está como uma Babilônia. Não entendi. A gaveta fica ali perto, no quarto, sussurou Lua. – Vou perguntar pra minha mamãe por que uma Babilônia é aqui pertinho e a outra é lááááá longe!
- Isso é outra história, Lua.Vamos continuar com a nossa árvore. Diz-se que a Árvore de Natal está presa nas tradições da Babilônia e vem de Ninrode, neto de Cão, filho de Noé.
- Peraí! Cão sou eu ... quer dizer ... cadela .... mocinha ... menina ... lindeza como diz minha tia Cris. E Esse Noé eu conheço. É aquele barbudoo simpático da arca cheia de bichos em cima das águas, flutuando dia e noite. O tal do dilúvio. Isso eu sei! Sei sim! Bom sujeito. Acho que ele é da equipe do resgate, aquela dos bombeiros, falou toda feliz a cadela.
- Lua, disse o livro – controle-se senão eu paro de contar. Não havia bombeiro nos tempos de Noé!
- Sim senhor! Mas ... é um absurdo. Todos os tempos, todo mundo precisa dos bombeiros. O carro deles faz uóm uóm uóm..... – parando de falar, Lua foi se aproximando da beira da almofada.
- Ninrode era um homem mau, muito mau – disse Sr.Livro.
- Comia cachorrinhos?
- Não Lua! Ele era muito ambicioso. Parece que ele se casou com a própria mãe e ....
- Noooossaaaaaa. Isso não pode! Não pode não! Minha mãe diz que não pode! Tiaaaaaa Cris! Acudaaaaaa!!!!
- A mãe-esposa dele era a Semíramis e que depois da morte de Ninrode propagou uma doutrina onde se dava como certa a sobrevivência de Ninrode através de um pinheiro que teria nascido e crescido da noite para o dia....
- Crescendo muito ... assim como um pão de queijo no forno?
- Mais, Lua. Muito mais. Essa árvore inteira teria surgido de um pedaço de outra, regenerado todas as partes e chegado a um pinheiro completo.
- Assim como um pedacinho de queijo que durante a noite crescesse e de manhã teria se transformado num enorme pão de queijo? Assim?, saltita Lua.
- Mais ou menos, Lua.
- Continue, sr.Livro. Tá ficando interessantíssimo essa história da árvore de pão de queijo, diz Lua engolindo muita saliva.
- Não é árvode de pão de queijo, Lua! Preste atenção que é um pinheiro! Entendeu?
- Entendi, mas que graça tem um pinheiro? Melhor se fosse de queijo ... imaginou um monte de pinhas de queijo? – sonhou a cadela.
- As pessoas, Lua, deveriam então colocar presentes nesse pinheiro. Daí a origem da árvore de Natal. Uma espécie de renascimento. Entendeu?
- Entendi, sr.Livro mas preferia ....
- Lua!
- Sim senhor!
- Tem mais. Em alguns lugares essa lenda sofreu algumas modificações no conteúdo e nos elementos.
- Como assim?
- Para os druidas essa árvore era o carvalho, para os egípcios era a palmeira e em Roma era o abeto. O deus escandinado mitológico Odin era tido como aquele que dava presentes nas festas pagãs, incluindo a do Natal. Entendeu, Lua?
- Acho que sim. Acho que sim ... mas não tenho muita certeza. Vou ter que perguntar tudo isso pra minha mamãe, reponde a Lua.
- Pode perguntar, disse o sr.Livro. Mas vamos para o Papai Noel e ....
- OBAAAAA. Papai Noel traz presentes. Traz caixinhas cheias de pão de queijo e .....
- Lua! Tome tento! Cachorro não pode comer pão de queijo!
- Poder não pode! Dever não deve! Mas .... come! Come sim! Obaaaaaa.
- O Papai Noel vem da lenda de São Nicolau, um bispo que viveu no século V depois do nascimento de Cristo.
- Ihhh. Lá vem outra história fora dos ponteiros do tempo. Ele veio taaaanto tempo depois do nascimento de Cristo? pergunta a Lua.
- É sim. Ele era um bispo em Myra, na Ásia Menor, de nome Nicolou de Myra, vindo de família muito rica, e que tem seu dia consagrado como 6 de dezembro ...
- Tá piorando! Tá piorando! Então o 25 de dezembro não é dia de Papai Noel? Quer dizer que os presentes devem vir em 6 de dezembro? Hein? E o que vai ser colocado embaixo da árvore de Natal do dia 25? Nada! Não pode ser! Conte tudo, sr.Livro! – diz a Lua.
- Essa cachorra é da pata virada! – reclama o sr.Livro para o livro raro que tinha saído da prateleira querendo tomar um sol e espantar a artrite gráfica que o acometeu! Essas técnicas antigas .... ai e ai.
- Olha, Lua. Tem uma lenda em torno do bispo que ...
- Senta que lá vem a lenda! – grita a Lua. – Que fome!
- É isso, suspira o sr.Livro. Ele, o bispo de Mira, o Nicolau, ele ofereceu, escondido de todos, dotes valiosos para três moças pobres poderem casar ....
- Como assim? Como assim? Elas precisavam de dotes para se casar? Não acredito!
- Lua, esses eram os costumes da época. Não nos cabe julgar; apenas relatamos, diz o sr.Livro.
- Pois eu fico indignada! Fico sim! Quer dizer que se elas não tivessem o tal dote não teriam casado? Ninguém ia querê-las? Não entendo nada disso. Os cachorros não tem isso. Pode ser de raça, um vira-lata, qualquer um que se olha e se entendem ... prepare-se para a chegada de filhotes! Ser humano é confuso, não? Livro tem disso também? Quando o livro é criança ele é infantil? O livro-mãe usa avental? O livro-pai fuma cachimbo? O livro-cachorro late? Onde eles todos vivem? Onde posso ....
- CHEGA LUA! Você me põe louco! esbraveja o sr.Livro.
- Puxa vida! Só quero saber, ora essa. Minha mamãe sempre diz pra que não se leve nenhuma dúvida para dentro da garganta. Precisa tirar da boca pra fora. HUNF! (Vou contar tudinho pra minha tia Cris. Vou sim!!!)
- Tá certo, Lua. Tá certo, mas a nossa história precisa continuar, diz o sr.Livro se divertindo com o emburro da Lua.
- Sigamos então! resmunga a Lua.
- Então, colocar presentes escondidos na árvore de Natal é uma mistura das práticas de Nicolau com a lenda de Ninrode. Alguns outros estudiosos dizem que o Papai Noel nasceu na Turquia e era um bispo de bom coração. Esses mesmos estudiosos concordam que se trata de Nicolau, um religioso que ajudava os pobres colocando moedas em saquinhos e jogando-os pelas chaminés das casas. A grande divulgação da imagem do Papai Noel se deu na Alemanha e espalhou-se pelo mundo em pouco tempo. Em Portugal ele é conhecido como Pai Natal, nos Estados Unidos e Canadá é Santa Claus, na França é Père Noêl, na Alemanha é Kriss Kringle, na Espanha é Papa Noel, na Suécia é Jultomten, na Holanda é Kerstman, na Filândia é Joulupukki, na Rússia ficou Baboushka, na Itália Babbo Natale, no Japão é Jizo, na Dinamarca é Juliman e no Brasil, Papai Noel. Sua roupa originalmente era marrom (até o final do século 19) mas em 1881 uma campanha publicitária da empresa de bebidas Coca-Cola utilizou-se do desenho feito por Thomas Nast em 1866 e publicado pelo semanário “Harper Weekly”, mostrando um velhinho simpático, de roupa vermelha e branca e um gorro vermelho com pompom branco, exatamente as cores da Coca-Cola. Deu certo e ....
- BURP! – desculpe, diz Lua envergonhada do arroto. – Mas falou Coca-cola ....
- Cachorro não pode tomar Coca-cola, Lua!
- Não tomo não ... mas de ver a minha mãe tomar e fazer os burps ... aprendi a inchar as bochechas como o Pingo faz, diz a cadelinha. Continue, sr.Livro. Estou adorando.
- Bem, tem uma história bonita sobre Papai Noel. Você vai gostar. Esse velhinho de barbas brancas, andando no ar de trenó puxado por renas foi idealizado através de um poema feito por Clement Clark Moore, um catedrático e ministro episcopal de título “An account of a visit from Saint Nicolas”...
- Of course, diz Lua.
- Lua, desde quando você entende inglês? diz o Dicionário Michaelis.
- Eu assisto desenhos e sempre tem cachorros falando ... – fala baixinho a cadela.
- É? Então traduza o que eu disse! diz sr.Livro.
- Ah! Você não sabe? Não? E quer que euzinha o ajude? Não mesmo! Minha mãe sempre diz pra não falar com estranhos e...
- Estranho? Eu? – reclama o sr.Livro. – Até título tenho!
- Quer dizer .... não devo ficar me exibindo ....
- LUA! Fale a verdade! diz o Livro raro lá no fundo da prateleira.
- Tá certo. Tá certo. Não sei o que quer dizer. Eu só entendo um tantinho de LATIDIM. – diz uma Lua envergonhadíssima. (Isso eu não vou contar pra minha tia Cris! Melhor não!!!).
- Quer dizer: “Um relato da visita de S.Nicolau” em 1822. O jornal Troy Sentinel publicou-o pela primeira vez em 1823. O autor só reclamou seus direitos autorais em 1844, depois de muitos periódicos terem publicado. Papai Noel tem como símbolo três bolas de ouro, que se refere ao dote dado para as moças. Lembra disso?
- Sim! E não me conformo ainda – resmunga a Lua
- Pois bem. Além de ser o símbolo do Natal, S.Nicolau também é o protetor dos marinheiros em alto mar e das crianças. As datas comemorativas de S.Nicolau (6 de dezembro) e do Menino Jesus (25 de dezembro) acabaram sendo unidas numa só após a grande reforma protestante, onde os germânicos resolveram deixar o Menino Jesus “transformado” em distribuidor de presentes, ainda que seja o Papai Noel quem prevaleça até hoje. Em 1969 o Papa Paulo VI retirou do calendário oficial das festas católicas a de S.Nicolau. Contudo, a tradição já estava presente em todos os lugares e até hoje a figura do velhinho barbudo e de roupa branca e vermelha está nos cartões de Natal e as crianças escrevem para o Pólo Norte, onde ele mora, pedindo seus presentes. Se elas foram boazinhas durante o ano todo, ganham.
- IUPI! Vou ganhar tudo!!!! Fui a melhor cadela de todas as cadelas.
- Será? Foi mesmo, Lua? Pergunta a enciclopédia. – Quem é que comeu o queijo que estava em cima da mesa? Hein?
- Mas ... ele estava lá ... sozinho .... abandonado .... querendo ser comido! Só fiz um favor.
- Sei, sei! Continue, sr.Livro – diz a enciclopédia.
- (Gorducha) – fala baixinho a Lua.
- Pois bem Lua. Que mais quer saber? fala sr.Livro.
- E os enfeites das árvores, questiona Lua.
- Boa pergunta, Lua. A coroa de natal, muito conhecida por guirlanda, vem de tempos quase perdidos na memória. Tem uma palavra em grego stephano e outra em latim corona, que podem corresponder a enfeites ou mesmo ofertas. Muitas vezes usada para significar homenagem aos mortos ....
- Tá louco! Morto não! – grita Lua.
- .... outras vezes para celebrar vitórias em esportes. É conhecida, a guirlanda, como Adorno de Chamamento para se passar pela porta de entrada onde estavam os deuses. Por isso colocam-se as guirlandas nas portas, como um sinônimo de boas vindas.
- Mas a gente pode pendurar coisas na árvore? questionou Lua
- Claro, Lua. O que se quiser. O que importa é comemorar e enfeitar a árvore com tudo que achar bonito – responde sr.Livro.
- Pão de Queijo pode? – pergunta
- Eu diria que não é auspicioso, Lua. Pode aparecer um rato ... e sabe como é, né? ponderou sr.Livro.
- Uma coisa tenho que dizer: eita história complicada, hein? É um tal de juntar pedacinhos de coisas de um lado e do outro! Parece a colcha de retalhos que eu durmo em cima, na minha caminha, fala a Lua.
- Assim é, Lua. Os homens pescam de lá e cá e acabam produzindo novas tradições com cara de velhas, pondera o sr.Livro. – E tem mais!
- O que vem agora, sr.Livro? Mais coisas velhas? resmunga a Lua.
- Você sabe de onde vem a origem do uso das velas no Natal? pergunta sr.Livro
- Da falta de pagamento da conta? tenta Lua.
- Não havia energia elétrica nessa época, Lua, sorri o sr.Livro.
- Acabaram os fósforos? Falhou a pilha? Descarregou a bateria? Faltou energia solar? –Nada disso? O que era então?
- Fogo! O velho e bom fogo, diz o sr.Livro. Acender velas representa homenagear e manter vivo o deus Sol.
- Lá vem esse deus de novo! diz Lua.
- Ele mesmo! Era uma homenagem que foi sendo substituída no seu modo de fazer. Hoje temos as luzes elétricas, o pisca-pisca ou outro meio mais moderno. O deus Sol sempre foi muito considerado e é dele também a tradição do presépio ...
- Alto lá! Agora vamos falar de bicho e eu quero muito cuidado. Jesus nasceu numa estrebaria, que é a casa de bicho. Lá tava cheio de bichos. Maior bicharia, bicharada ... sei lá. Era dos bichos, reclama Lua.
- É verdade, Lua. Mas, todos esses animais acolheram com carinho aquela criança e seus pais, diz o sr.Livro.
- É sim! É! Pena que os humanos se esqueçam disso e deixem os animais – muitos – sem casinhas, comidas, expostos ao frio, chuvas e maltratos, choraminga Lua.
- Concordo, Lua. Mas, um dia isso vai mudar!
- Espero mesmo! Acabou a história?
- Sim, Lua. Você quer saber mais alguma coisa?
- Quero sim. Por que Papai Noel mora no Pólo Norte? Faz um frio danado lá! Nem meus amigos houskies siberianos ficam sem casaco! Não podia morar aqui perto? Ir na praia? Distribuir pães de queijo em Ouro Preto ou acarajé de queijo em Salvador ... ou mesmo hot-dog-cheese em S.Paulo?
- Morando no Pólo Norte Papai Noel não pertence a país algum, de nenhum credo ou governo. Assim pode ser de todos!
- Puxa! Que bonito isso tudo. Só tem mais uma pergunta – diz Lua
- Qual? pergunta sr.Livro.
- Tem receita de pão de queijo em algum de vocês? É que prometi ums receita nova de pão de queijo pra tia Cris – fala Lua.
- Essa cadela! Não tem jeito mesmo. Vamos ver o que encontramos aqui! Tem um livro de culinária mineira em alguma das prateleiras ....
De repente a porta se abre e a mãe da Lua grita:
- Luaaaaaaaaaa. Cadê você?
Num segundo, feito um raio, passa uma cadelinha branca farejando a fornada de pão de queijo que o pai tirava do forno naquele momento. A receita do pão de queijo? Tá no blog dela, uai.

autoria: Marly Spacachieri
transcrito@yahoo.com.br
31/05/2009