sábado, 10 de outubro de 2009

DE LATIDOS À PALAVRAS


Se tem uma coisa que deixa a Lua nervosa é ela latir e ninguém entender! Os humanos são complicados entre eles mesmos, muitos falam e ninguém entende nada. Imagine se eles vão entender o que os cães latem ou o que quer dizer um miado? Nunca. Cachorro late do outro lado da cidade e todos os demais entendem. A grande maioria dos humanos não é interessada em comunicação homem com cão, pelo menos é o que parece. Porém, existem alguns humanos muito bem intencionados e preocupados com a comunicação entre animal e humano. Tem sim!

A Pipoca ficou encarregada de convocar no condomínio todos os cachorros para uma reunião extraordinária. Ordens da Lua! Assim fez e assim foi. Como os donos não deixariam os caninos saírem foi preciso montar um esquema de latidos informadores. Assim: a Lua latia pra cima e os demais iam repassando para os outros mais próximos. E estes mandariam as informações para os demais, até que todos tivessem recebido a mensagem. Um protótipo animal de satélite. Alta tecãonologia. usada para um momento histórico.

A Lua, em cima da máquina de lavar para poder ser vista pelos outros cachorros das demais áreas de serviço começou a explicar que logo todos os cachorros falariam com os humanos. A remessa das mensagens para os outros animais foi ficando cada vez mais intensa. O assunto era entusiasmante. Contudo, alguns não acreditaram.

- Como assim? Não acredito! disse Xinxila, o pequinês amiguinho da Lua do apartamento 25.

- É verdade Xinxila! Pesquisadores japoneses lançaram uma maneira de promover o diálogo entre os humanos e os cachorros. Como? Com um tradutor de latidos. A engenhoca recebeu o nome de Bowlingual Voice. Pode parecer coisa de desenho animado, aquele onde humanos e cachorros se falam. Na verdade trata-se de um aparelho que analisa a acústica dos sons emitidos pelo cão e os traduzem para palavras. O aparelho é produzido por uma empresa chamada Takara Tomy e detecta seis emoções diferentes, sendo as mais importantes a tristeza, a alegria e a frustração. E também associa sentimentos a frases como “brinque comigo”. O aparelho deve custar em torno de US$ 200 e será vendido no Japão ainda no ano de 2009.

- De onde você tirou tantas informações Lua? questionou Zeus, o fox paulistinha do 16.

- Ora! Eu sou uma grande pesquisadora, disse a branquinha, escondendo a “cola” debaixo da pata.

- Que mais tem sobre isso? perguntou Jujuba, a co-irmã da Lua em assuntos culinários.

- Por enquanto é só isso que vou falar. Mais tarde, num outro dia, falo mais. Agora estou cansadíssima! resmungou Lua que não admitia seu desconhecimento sobre o assunto, e se apavorou pela quantidade de perguntam que lhes faziam. Deixou todos muito curiosos.

Temerosa de abalar a sua imagem de pesquisadora canina lançou-se na tarefa de fuçar mais sobre o assunto. Começou folheando os jornais que vão servir para forrar o chão onde os cachorros todos fazem xixi. Enfiou-se na caixa de papelão e foi jogando todas as folhas pro alto. Uma bagunça enorme, mas que o papai, logo depois, arrumaria. Os pais são ótimos e arrumam todas as badernas que os cães fazem. Resmungam, gritam, esperneiam, mas arrumam. - E não entendem quando a gente pede desculpas! - resmungou a Lua.

- Se pelo menos eu pudesse pedir ajuda pra mamãe! suspirou a cadelinha.

Num momento de sorte encontrou num jornal a matéria sobre o assunto. Imediatamente chamou a Pipoca e ordenou – isso mesmo!!! ordenou – que ela convocasse nova reunião extraordinária.

- Mas Lua ... o pessoal acabou de desmanchar a rede do satélite canino! reclamou Pipoca.

- Nem quero saber! Isto é muuuuito importante! Vamos! Vamos! – disse Lua.

- Por que não falou naquela hora, Lua? – perguntou Jujuba que estava espreitando a branquinha e sabia que ela apenas tomara conhecimento das novidades depois de procurar nos jornais velhos.

- Porque eu não queria! Só isso! Nada além disso! – resmungou a cadelinha.

- Pipoca suspirou fundo e saiu em convocação da extra-extraordinária assembléia. Porém, ao contrário do que pensava, os amigos caninos correram para seus postos de retransmissão. Estavam excitadíssimos sobre o assunto.

- Caros amigos! Vou tirar as dúvidas de todos. O aparelho contém um microfone a ser colocado no pescoço do cachorro e um dispositivo que fica com seu dono.

Esse foi um ponto que a Lua não gostou. Ficou pensando como ficaria ridícula com a engenhoca em torno do seu lindo pescocinho branco. Amassaria seu laço de cetim. Além do mais, é bem possível que o Pingo fizesse piada disso. Já podia antever o cachorro amarelo rindo dela e gritando:

- Pamonha, pamonha, pamoooooonhaaaaaa!

Justamente para ela que só se interessa por pão de queijo! Ainda se fosse uma pamonha de queijo ralado, tipo parmesão!!!É! Mico puro e certo. Mesmo assim, continuou a contar como funciona o tradutor de auaus.

- Toda vez que o cachorro latir, o microfone grava o ruído e manda a informação para o dispositivo que está com o dono. Daí acontece a tradução do que o cão disse! E essa gravação acontece inclusive quando o dono estiver ausente. O primeiro aparelho que tentou traduzir os desejos caninos foi feito em 2002, no Japão, e apenas apontava, numa tela, as possibilidades de interpretação dos desejos caninos. Vendeu mais de 300 mil unidades.

- Quem quiser ver uma demonstração, disse a Lua, anote o link:

http://www.youtube.com/watch?v=ummUCShK_Wk

A movimentação canina foi imensa. Todos latindo ao mesmo tempo, afinal, falar com os humanos e ser entendido parecia o fim de um pesadelo. Alguns deles iriam saber – na verdade – o que seus cães pensam e sentem sobre os tratamentos que recebem. Fritz, o pastor belga do 36 já estava montando sua rede de contatos que seria o conselho de uma futura entidade de defesa da palavra do cão. Ele, o Fritz, seria o delegado. Outros grupos surgiram na hora, inclusive o dos defensores da abolição dos banhos.

Lulu ficou encantada ante a possibilidade de ser entendida pelo entregador de pizza delivery. Imagine ela acionando o cãolular, sendo atendida e pedindo dezenas de pizzas de carne moída?

Já a Lua pensou naquelas entregas especiais de salgadinhos.

- MARAVILHA!!!! Pão de queijo o dia todo, salivou a branquinha.

Aí o cãolular da Lua tocou: AUUUUU, AUUUUU.

- Aulô, diz Lua. Quem é?

- Sofia, Lua.

- Sofia?

- Sim, a cadela do Alexandre Rossi, aquele zootecnista que vive entre os bichos, conhecido como Dr.Pet.

- Sei sim. Assisto sempre ao programa onde ele ensina coisas pros humanos. Meus pais não faltam. Eu assisto junto pra vigiar se eles estão prestando atenção! Como vai você?

- Bem. Olhe, eu liguei porque estou sabendo do seu interesse entre essa tal de comunicação entre humanos e cães e ...

- Como é que você soube disso? perguntou a desconfiada Lua.

- Lua! Eu sou associada do satélite canino e entre cães não há segredos!.

- Isso é! ponderou a branquinha.

- Pois então. Acontece que o meu dono, o Alexandre, se comunica comigo. Nós batemos loooongos papos. Ele me entende! disse Sofia.

- É? disse a Lua, desconfiada de aquela canina tivesse querendo se mostrar. Não deixaria. Nunca. Pelos deuses dos pães de queijo, lutaria até o fim!!!

- Mas é verdade sim. O Alexandre (Rossi) fez um trabalho fantástico comigo, explicou Sofia. - Fui adotada por ele, que me encontrou abandonada na rua, ainda filhote (hoje tenho 7 anos) e começou um estudo para provar a capacidade do cachorro de se comunicar com o homem por meio de gestos. Montou um painel que “fala” frases assim: “estou com fome” ou “quero fazer xixi”. Aí eu aprendi a apertar a tecla do painel quando quero aquela coisa. Não precisamos de nenhum japonês para nos traduzir! Vamos no velho e bom idioma português.

- Que maravilha, exclamou a Lua. Imagine só euzinha no meu painel com muitas teclas onde conste a mensagem: QUERO PÃO DE QUEIJO AGORA.

De nada adiantou a Sofia argumentar que cachorro só pode comer ração! Lua já estava resolvida a fabricar seu painel. Dissolveu a assembléia e começou a procurar o material necessário para montar seu pãoinel de pão de queijo!

Marly Spacachieri
transcrito@yahoo.com.br
Fonte de pesquisa: O Estábulo de São Paulo – Centro Acadêmico Moacyr Rossi Nilsson – FMVZ/USP – agosto de 2009.

sábado, 3 de outubro de 2009

A LUA SÓ ANDA
NA RUA
DE COLEIRA E GUIA
Especialmente dedicado a Tia Cris que lá de Paris vai comer pães de queijo sentindo muita saudades da Lua! É sim!!!

A Lua é muito interessada em coisas da ciência. Ela entra na biblioteca da sua mãe e fuça tudo o que pode. Outro dia achou em cima da mesa um artigo de uma revista que trazia um cachorro na fotografia.

- Isso é muuuuito auspicioso, pensou a Lua.

Sentou-se sobre as patas trazeiras, ajustou a cortina com o focinho para que a luz entrasse e começou a fuçar. Era a história de um cachorrinho que se perdeu dos donos e que voltou porque conseguiu, sozinho, encontrar a casa.

- Grande coisa! Eu acho os meus brinquedos em qualquer lugar! resmungou a Lua.

Mas o que a Lua não sabia é que os cachorros tem receptores olfativos (farejadores, na linguagem caninês) 40 vezes mais potentes que o dos seres humanos.

- Por isso acho 40 pães de queijo quando a mamãe só acha um, riu a branquinha

Na verdade, isso explica como os cães acham pessoas desaparecidas depois de alguns dias. Eles conseguem identificar cheiros de rios, árvores e até de jardins da região onde mora.

- O vento leva esses cheiros, o cachorro capta-os e segue em busca do lugar perdido, disse a revista que a Lua lia.

Revista fala? Bom, naquela biblioteca tudo podia acontecer e ganhar vida. Se uma cadela fazia pesquisas .... nada mais espantava!

- Mas com tanto cheiro ruim? questionou a Lua pra revista.

- Tem razão, Lua, respondeu uma das páginas. A poluição, que você chama de cheiro ruim, está causando complicações de entendimento nos focinhos caninos.

- Mas por que os cachorros fogem? Eles não gostam de suas casinhas? perguntou o Batatinha, um cão de pelúcia que fica em cima do armário.

- Eles fogem para tentar perpetuar a espécie, disse a revista. E por isso os machos fogem mais que as fêmeas. E a maioria dos que se perdem jamais retornam.

- E os humanos não fazem nada? perguntou a Lua

- Alguns tentam, mas os cachorros são sapecas. Um dos humanos montou uma página na internet http://www.caesperdidos.com.br/ para anunciar os cães desaparecidos, porém, muitas pessoas não ligam muito para cachorros que aparecem, que estão perdidos e com medo. Tem dono que nem liga.

- Tadinhos, choramingou a Lua. – Se eu sair de perto, minha mãe tem um ataque e meu pai fica maluco. Eles me adoram ... quer dizer ... eles adoram todos nós.... e todos os cachorros do mundo. Inclusive um gorducho chamado Bim. HUNF!

A revista sugeriu que as pessoas treinem seus animais para que possam, caso se percam, retornar para suas casas. A Lua correu pro quadro negro que está preso atrás da porta e de giz em pata começou a escrever em caninês. Os proprietários devem:
- caminhar com seu animal diariamente pelo bairro;
- chamar a atenção do cachorro para placas, estabelecimentos e semáforos;
- estimular o faro canino colocando petiscos escondidos pela casa;
- evitar cheiros fortes, principalmente de produtos de limpeza;
- alternar os caminhos dos passeios, mudar os horários e as frequências dos passeios;
- ir o mais longe possível nesses passeios.

- Puxa, quanta coisa, disse a Lua. – Vou ter que pedir pra minha mãe anotar tudo e colocar no meu blog.

- Mais uma coisa, disse a revista, - Quando o faro falha, os animais usam a audição. Eles ouvem a quilômetros de distância.

- Então os cachorros tem GPS? questionou o Batatinha.

- Pode-se dizer que sim, respondeu a revista. Mas, é preciso cooperar evitando poluir o ar. O faro é importantíssimo.

- Faro? É claro, diz a Lua farejando pra cima. – Estou farejando .....farejando ..... noooossaaaaaaa ...

- O que é, perguntaram a revista e o Batatinha.

- Pães de queijo no porta-mala do carro do papai que está entrando na marginal Pinheiros agora.

- Mas aqui é Taboão da Serra!!!!! falou Batatinha.

- GPSPQ, respondeu a Lua.

- Que é isso? perguntou a revista.

- GPS do Pão de Queijo, respondeu a cadelinha, lambendo o focinho. Tchau, genteeeeeee. Vou esperar meu papai atrás da porta. Aí ele entra e eu .... zás .... cato todos os pães de queijo.
Autoria: Marly Spacachieri
Outubro/2009
transcrito@yahoo.com.br