sábado, 7 de maio de 2011

CARTAS NA MESA E ..................................... PÃO DE QUEIJO NA BOCA!!!!

Toda a matilha estava preocupada com a Lua. De uns tempos para cá ela dera para ficar com as patas esparramadas no chão, deitada sobre a barriguinha e tentando esconder o que fazia. Bastava um dos cachorros aparecer para ela esconder algo embaixo das patas dianteiras. Contudo, uma coisa ficou clara: ela estava sempre se debruçando sobre pequenos pedaços de papel, hora roendo suas bordas, hora batendo neles com a pata como se colando algo. Também lambia alguns. Tudo muito esquisito. Tio Chicão ficou preocupado com as atitudes da Lua e chamou-a para uma conversa particular no canto da sala de visitas, em cima do seu tapete preferido.
- Menina Lua, o que a menina está fazendo?
- Euzinha? Nada de nada. Estou apenas brincando com minhas coisinhas – respondeu a branquinha.
- Que coisinhas são essas? – perguntou Tio Chicão
- Coisinhas, ora! Coisinhas são coisinhas, tio. Mamãe sempre disse que todos nós temos nossas coisinhas que fazem nossos tesouros. Não é assim? O Tio não tem suas coisinhas também?
- Sim, menina Lua. Todos nós temos nossos pequenos tesouros que são valiosos, muitas vezes, apenas para nós.
- Então! Eu tenho os meus tesourinhos ...
- Mas a menina Lua anda muito quietinha, deitada no chão, roendo e lambendo papéis que não se sabe de onde vieram e que podem fazer mal à saúde dela – falou Tio Chicão.
- Não são papéis errados. São papéis certos – respondeu a branquinha.
- E o que são papéis certos e papéis errados? – perguntou o Pingo que estava já com a orelha comprida em direção à dupla. – Nunca soube disso. Sempre achei que papel era papel, nada mais que papel.
- A menina pode explicar o que entende por papel certo? – falou tio Chicão.
- Papel certo, tio, é aquele que traz coisas boas. Assim como os livros que a tia Cris mandou pro Sebo do Bim e que depois de vendidos acabaram dando dinheiro para a cirurgia dele. É sim. Também tem os papéis bons que são as cartas lindas que a gente recebe dos amiguinhos e amiguinhas. E tem os papéis suuuuuper certos e bons que são os que embrulham os pães de queijo. Esses são lindíssimos – explicou a branquinha.
- E os papéis errados? – perguntou o Pingo
- Papéis que trazem coisas ruins, mentiras e coisas assim. Tem papéis que estão cheios de letrinhas que fazem as pessoas sofrerem e chorarem – falou a branquinha.
- Nossa! Que coisa! Nunca tinha pensado nisso – falou a Tuca que estava atrás do sofá espiando.
- Nem eu – falou a Azeitona. – Mas tem razão. Tem muito papel ruim por aí. A gente, quando faz xixi em cima do jornal, aproveita e vê as notícias. São de arrepiar pelo de poodle tosado no zero.
- Mas afinal, Lua – perguntou a Pipoca – que papéis são esses que você tanto roe e lambe para depois ficar estapeando?
- Cartinhas! São minhas cartinhas! Estou fazendo um jogo de cartas com meus papéis de pão de queijo, respondeu a Lua. – Quero brincar na casa da tia Cris com elas.
- Como assim? Jogos de cartas de pães de queijo? – perguntou a Tetê. – Eu sempre vi jogos de cartas com figuras de reis, rainhas e príncipes, mas nunca de pães de queijo.
- Por isso mesmo é que eu estou fazendo um, ora bolas! Com um jogo de cartas de pães de queijo a gente pode jogar Buraco de Queijo, 21 Queijos, 7,5 Queijos, Pôquer de Queijo e outros queijos que aparecerem – explicou a Lua, toda empolgada. – E eu estou fazendo as minhas figurinhas virarem cartas de jogos, por isso roí as bordas e colei alguns desenhos que encontrei. Mas ... não está dando certo porque não ficam grudados.
- Claro que não, Lua – explicou a Tila. Nada gruda com saliva. Você tem que usar uma cola e ...
- Nem pensar! Nem pensar! – gritou a Jujuba. – Se alguém der cola para essa amalucada ela vai colar o mundo todo. Não mesmo!
- Que exagero, Jujuba. A Lua está apenas tentando criar um jogo de cartas que ... – falou o Kousky.
- Que idéia! Onde já se viu cachorro com jogos de cartas? Cachorro tem que cuidar de ossos, pulgas e gatos. Apenas isso! – reclamou a Jujuba.
- Menina Jujuba, não é assim que se fala. A menina Lua está tentando fazer um jogo usando sua imaginação e os conhecimentos que tem do assunto. Não se pode simplesmente jogar fora o que ela pretende porque pode parecer esquisito vindo de um cachorro.
- Cadela, tio! Cadela! Reclamou a Lua já fazendo bico de choro.
- Também acho, falou a Tata. – A Lua pode e deve fazer seus brinquedos usando o que sabe e o que tem. Se possui papéis de embrulho de pães de queijo, que sejam eles! Mas, Lua, o que você sabe sobre essas figuras dos jogos de carta dos humanos.
- Tia Tata – falou a branquinha levantando as orelhas – eu sei que essas tais cartas foram criadas na França entre os anos de 1422 e 1461.
- Nos finais da meia idade? – perguntou o Teco.
- Idade Média, Teco. Idade Média – falou a Sasha.
- Isso mesmo, Sasha. Essas figuras eram oito homens e quatro mulheres – falou a Lua.
- E alguém sabe quem são elas? – perguntou a Chica.
- Como assim? Quem são elas? Ninguém, ué! – falou a Lua.
- Nada disso, menina Lua. Esses personagens têm nomes sim – explicou tio Chicão.
- Então não são apenas desenhos? – perguntou a Lua franzindo a testa, sinal que estava tendo idéias. Quem sabe colocar as fotos do papai, da mamãe, da tia Cris, da tia Lorena, da tia Rosinha ... Hum!!!!
- São desenhos de possíveis personagens, algumas lendárias e outras de maior probabilidade de terem existido – falou Tio Chicão. – Se a menina já viu um baralho de cartas deve ter notado que existem duas cores: o vermelho e o negro, cores essas divididas entre os símbolos que acompanham as cartas e que se chamam naipes.
- Não entendi – falou a Pipoca. – O que são naipes?
- São os desenhos, pequenos símbolos que fazem com que as cartas que os possuam sejam da mesma família – explicou Tio Chicão.
- Assim então se eu quiser fazer uma família de naipes vou ter que colocar os mesmos símbolos nas cartas correspondentes? Se quiser um naipe de gorgonzola vou ter que colar gorgonzolinhas nas minhas cartinhas? – perguntou a Lua.
- Certo, menina Lua. De certa forma é essa a idéia – falou sorrindo o Tio Chicão. Essa menina tinha uma imaginação e tanto, mas entendia as coisas com extrema rapidez.
- Complicou! Onde vou achar parmesõezinhos, queijinhos pratinhos, gorgonzolinhas e mussarelinhas para colar? – perguntou uma angustiada Lua.
- Mas precisa ser assim, Tio Chicão? Não pode ser algo mais simples – perguntou o Pingo solidário com a branquinha e de olhos compridos na Sasha.
- Claro que sim, menino Pingo. Esses símbolos existentes nas cartas que os humanos usam para jogar são simplesmente corações, pás, diamantes e trevos, mas que acabaram recebendo outros nomes como copas, espadas, ouros e paus. A menina Lua pode apenas fazer desenhos simples desses queijos que deseja transformar em naipes e colocar em cada família de suas cartas – explicou Tio Chicão.
- Obaaaaaaaaa. Vou pedir pra tia Cris me mandar uma foto de cada um desses queijos e eu vou fazer os desenhos. Vai ser uma “naipada” só! – saltitou a branquinha.
- Menina Lua! Que é isso de “naipada”? Onde arranjou essa palavra? – perguntou Tio Chicão.
- Daqui, ó – falou a Lua enquanto apontava a cabeça com sua pata direita dianteira.
- Mas tio Chicão, quando a gente olhar os naipes que a Lua vai desenhar vai perceber o que são: queijos diferentes uns dos outros, certo? Mas quem são essas figuras que têm nas cartas dos humanos? – perguntou a Lulu.
- Excelente questão, mocinha Lulu – respondeu Tio Chicão. – Realmente essas imagens têm nomes e referem-se a alguma figura que pode ter existido ou ser apenas uma lenda.
- Como assim? Uma lenda? – exclamou a Jujuba. – Então a gente pode estar olhando para uma figura de ninguém?
- Mais ou menos assim, garota Jujuba. A figura pode ser representativa de uma lenda, de uma idéia, de um símbolo. Isso lhe dá uma identidade que ....
- Pode parar, Tio Chicão, porque está embolando a minha cabeça – exclamou o Teco.
- Garoto Teco, o que quero dizer é que aquela figura pode estar representando alguém ou algo. Isso lhe dá um corpo – tentou explicar um confuso Tio Chicão.
- Pelo que sei, o rei de espadas é a imagem representativa do rei Davi, o rei de Israel, que matou o gigante Golias, mas que aparece na carta com uma espada na mão – falou o Kousky.
- Pelos ossos sagrados! – exclamou o Pingo. – Esse branquinho me espanta. De onde ele tira essas informações? Será que ele sabe de antemão o que vai rolar no pão de queijo da Lua e se prepara? Não pode ser que ele tenha tantas informações! Tem coisa aí – resmungou o amareludo.
- Pois bem, menino Kousky. Fale-nos sobre as demais cartas – falou Tio Chicão sentando-se no seu tapete azul.
- Vamos ver. Vamos ver. O rei de paus é o Alexandre, o grande, que conquistou impérios na antiguidade. Já o rei de ouros é Júlio Cesar, um dos grandes imperadores da Roma antiga. É interessante que ele aparece de perfil, como era o costume na Roma antiga. Já o rei de copas é Carlos Magno, um dos grandes homens da Idade Média que com seus exércitos segurou o avanço dos muçulmanos do então território tido como sendo Europa. Ele não tem bigode como todos os demais e sua espada está levantada – falou o Kousky.
- Ai e ai – suspirou a Lulu enquanto olhava para o Kousky. – Esse branquinho é tuuuuudo.
- Muito bem, meu jovem – falou Tio Chicão. – Mas e os príncipes e as rainhas?
- Dos príncipes eu entendo – falou a Azeitona. – Posso falar? Posso? Hein?
- Fale, menina Azeitona. Estamos ansiosos pelas suas informações.
- Boooom ...
- Vai começar a enrolação – resmungou a Jujuba.
- Jujuba! Deixe a Azeitona falar! – gritou a Pipoca.
- HUNF! – disse uma Jujuba de boné virado e roendo as unhas das patas dianteiras.
- A dama de paus é a Marie de Anjou ...
- Marrídanjú? – falou a Lulu
- É francês, Lulu. Marie de Anjou foi a rainha da França casada com Carlos VII. E tem algo muito interessante porque esse rei, o tal Carlos VII, tinha uma amante chamada Agnés Sorel que é a figura da dama de ouros. Muitos dizem que essa figura da dama de ouros representa a esposa do patriarca Jacó, dos tempos bíblicos, a sra. Raquel e foi escolhida pela sua beleza para “sugerir” ser a imagem da Agnes. Já a dama de copas é a sra. Judith da Baviera, nora de Carlos Magno ...
- Pronto! Tá lá o nepotismo. Isso é mais velho que o mundo! – exclamou a Tila.
- .... e era uma mulher afeita às conspirações. Já a dama de espadas é a tal figura mitológica ...
- Lá vem a mentira! – resmungou a Jujuba.
- ... Atena, uma deusa grega da guerra da sabedoria. Aproveitou-se a sua imagem para homenagear a Joana D’Arc e em sua mão aparece um punhal – completou a Azeitona.
- Quem foi Joana Darque? – perguntou a Lua.
- Joana D’Arc foi uma mulher corajosa e lutadora que ajudou a Carlos VII a obter muitas vitórias contra a Inglaterra na Guerra dos Cem anos...
- O quê? Lutaram por cem anos? – gritou a Lua – Mas que coisa besta ...
- Não, Lua. Foram 116 anos porque durou de 1337 a 1453 – explicou a Sasha.
- Piorou! Além de besta ainda não sabe fazer conta? Que gente era essa? – resmungou a branquinha.
- Muito bem, menina Azeitona. Estou muito contente com suas informações. A menina anda se aplicando às leituras? – perguntou Tio Chicão.
- Bom, tio. Para ser honesta com o senhor e com todos os outros eu confesso que achei essa informação numa das inúmeras revistas que vêm dentro dos sacos de jornais velhos que meu papai recebe para colocar nos nossos xixis.
- Então, menina Azeitona, continue e fale sobre os príncipes das cartas de jogar – falou Tio Chicão.
- É isso aí, Azeitonona! – gritou a Lua. – Vamos até o fim! Arranque todos os caroços dessa história.
- Mais que isso não sei de cor não. Vou pegar a reportagem – e levantou a patona do chão e de lá tirou algumas folhas de revistas bem dobradinhas. – Então ... os príncipes são: o de copas que é a representação de um cavaleiro francês chamado La Hire e que se destacou na Guerra dos Cem Anos ao lado de Joana D’Arc ...
- Não disse! Não disse! Lá está a falcatrua no ar: a tal Joana do arco e a guerra dos cem anos que durou 116. Pode isso? Não é para ficar nervosa? Para sair mordendo? – latiu a Jujuba.
- Jujubinha – disse a Pipoca – tome este chá de erva doce com camomila para se acalmar.
- Quem está nervosa? Quem? QUEM? – gritou a Jujuba
- Senhorita Jujuba, tenha modos – reclamou Tio Chicão. – A senhorita está gritando e não tem porque fazer isso. Afinal, o que tem de errado em Joana D’Arc ser citada nas cartas de jogar? E ela realmente é uma heroína do povo francês na guerra contra a Inglaterra conhecida como a dos Cem Anos.
- Peraí! Se entendi bem as damas eram de países diferentes? De inimigos? – perguntou a Tete.
- Sim, senhora Tete – respondeu Tio Chicão. – Mas nas cartas ficaram separadas pelos naipes diferentes.
- Tá certo isso – exclamou a Lua. – Imagine se eu coloco o parmesão com o gorgonzola! Não se dão! Podem grudar! Muito perigoso!
- Voltemos ao relato da menina Azeitona.
- Bom, o príncipe de ouros é o Príncipe de Troia, da Ilíada, um poema épico de Homero ...
- Vou fazer de conta que entendi e que sei quem são esses daí porque senão vai ver tanta explicação que este pão de queijo vai ficar esticado demais – cochichou o Pingo ao Teco.
- Ele teria morrido num duelo contra o herói grego Aquiles e por isso é representado com uma espada virada para baixo. Já o príncipe de espadas é o Ogier, um cavaleiro dinamarquês fictício que aparece em poemas épicos medievais. Nesses poemas ele aparece como aliado de Carlos Magno. E por último, o príncipe de paus é o famoso sir Lancelot, da corte do rei Arthur. É isso.
- Bom, menina Azeitona. Apenas faltou dizer de onde tirou tudo isso – falou Tio Chicão.
- Foi de uma revista que não está escrita aqui. Prometo procurar e dizer aqui.(*)
- E agora, menina Lua? Já sabe como fazer? – perguntou tio Chicão.
- Já sei sim. Vou recortar oito imagens de queijos e pedir para a minha mamãe colocar naquela máquina que faz as coisas ficarem pequeninas. Depois ela vai me dar de volta para eu colar nas minhas figurinhas – explicou a branquinha.
- Que máquina é essa, Lua? – perguntou a Tata.
- Máquina Xerox, tia Tata. -
- E depois disso?- perguntou tio Chicão.
- Bom, depois disso vou montar o meu jogo de cartas, pegar minha malinha e ir pra a casa da tia Cris jogar o Jogo dos Pães de Queijo com ela. Vou sim. Depois deixo as figurinhas para ela sempre se lembrar de euzinha. Assim ela deixa de ficar lendo o blog do goooordo e me dá atenção! (**)
E lá se foi a branquinha com suas figurinhas nas patas, buscando auxílio da mãe para montar um jogo onde o prêmio fosse um super pão de queijo.


Abril/2010
(*) A Azeitona sempre cumpre o que promete: Revista Super, de dezembro de 2010 e da matéria da sra. Juliana Sayuri
(**) http://bigblogdobim.blogspot.com/