segunda-feira, 11 de abril de 2011

SE TOMO UM BANHO DE LUA! FICO BRANCA COMO A NEVE???




- Lua. Onde você está? Luaaaaaaa. Cadê essa cadelinha? – perguntava a mamãe da matilha. – Hoje é dia dela tomar banho e eu já estou atrasada. Luaaaaaaaaa.

E nada da branquinha aparecer. Era um tal de levanta almofada aqui, procura lá dentro do armário, abre aquela porta da sapateira, vasculha o cesto de roupas sujas e nada de achar a Lua.

- Tio Chicão, o senhor sabe onde está a Lua? – perguntou a Pipoca. – Mamãe disse que hoje é dia de banho e ela sumiu desde cedo. Nem veio tomar seu leite de soja. Será que aconteceu alguma coisa? Com tantos seqüestros por aí ....

- O que aconteceu é que a menina Lua não quer tomar o banho e se escondeu. Apenas isso, Pipoca, respondeu tio Chicão. – Mas a menina Lua vai ser achada em breve porque a mamãe tem um atrativo super especial: pão de queijo quentinho. Sinta o cheiro vindo da cozinha.

- Obaaaaaaaaaa, latiu uma vozinha de dentro do armário de roupas de cama. – Lá vou euzinha comer os pães de queijo e ....

- E nada, mocinha! Já para o banho, disse uma mamãe muito nervosa. Pegou a Lua e levou diretamente para o banheiro. Tempos depois saía de lá uma Lua emburrada, mas perfumadíssima. Ganhou um pedacinho de pão de queijo, comeu e nem assim ficou feliz. Coisa grave!

- Garota Pipoca, chame todos os demais. Acho que temos que falar um pouco sobre a água, disse tio Chicão.

- Água? Mas o que tem a ver agora a água? Basta que as nossas vasilhas estejam cheias e limpas que me basta saber dela, reclamou a Jujuba.

- Jujuba, cara senhorita – exclamou tio Chicão – não basta apenas ter a água para se tomar. É preciso mais que isso. Água é essencial para a vida.

- E daí? A água está na torneira e a gente vai e pega, usa e pronto! – respondeu uma Jujuba já nervosinha.

- Ou toma chuva, pisa na poça, rola na lama – exclamou o Pingo, que adorava uma lambança.

- Mas de onde saiu toda essa água? – perguntou tio Chicão.

- Daquele chuveiro horroroso, cheio de furinhos, que a mamãe usa pra dar banho no meu pelinho branco. É sim – exclamou uma Lua emburradíssima.

- Nem sempre é assim fácil de se obter a água, menina Lua. O banho é algo essencial na vida de todos os seres e mais que beleza e perfume; é saúde. Nos tempos mais antigos, já se usava tomar banho como forma de prazer e de terapia. Os cachorros egípcios tomavam banhos até três vezes ao dia.

- Nossa! Vai ver que é por isso que tem múmias deles ainda por aí com pulgas faraônicas! Devem ter se encharcado tanto que nunca mais secaram – exclamou a Azeitona. Ela alimentava a idéia de que com ancestrais africanos era uma reencarnação de uma cadela egípcia que acreditava chamar-se Tut-sem-raça II. Quem sabe? E como era uma cadela que tomava água o dia todo... Combinava, não?

- Já no período do império grego, os banhos eram uma forma de se educar os jovens. Eles deveriam ler e nadar - continuou tio Chicão

- Então eles tinham livros-bóias? Como liam enquanto tomavam banho? – perguntou a Tetê.

- Não! Os ensinamentos eram divididos com horários próprios. Numa hora estudavam, noutra nadavam, ambos tidos como instrução essencial à vida – disse tio Chicão.

- E o pelo secava como? Usavam protetores contra o sol? Tinha água salgada? E os cremes .... – dizia atropeladamente a Lulu enquanto se penteava.

- O corpo era tido como um templo a ser cultuado e cuidado. Por isso, os gregos eram conhecidos como os mais belos entre seus pares.

- Mas tio Chicão, nem sempre ficou assim, não é? – perguntou o Teco. – Li que na tal meia idade as coisas se complicaram e os cachorros eram fedidos.

- Idade Média, Teco. Idade Média! O período que vai do século IV até o XIV, mais ou menos, resmungou a Lua.

- Nossa! Às vezes ela surpreende mesmo! – exclamou a Tuca. – De onde ela tira isso?

- Quando está se aproximando do sábado, ela se esconde desde a sexta, na biblioteca da mamãe. Ela retira os livros e se esconde nas estantes, colocando-os de volta. Então, para passar o tempo fica lendo, mas fala para todo mundo que conversa com alguns seres invisíveis que ... - dizia a Tata quando ouviu o grito estridente da branquinha.

- Seres invisíveis coisa nenhuma! São bem visíveis sim. É o sabonete sem cabeça e a toalha de fio puxado que se arrasta pelo chão! – explicou a Lua. – Eles sempre me descobrem e ficam ameaçando me entregar se não contar uma historinha pra eles.

- Que tipo de historinhas pode querer um pedaço de sabonete e uma toalha defeituosa? – perguntou a Chica.

- Tia Chica, a senhora nem pode imaginar, exclamou a Lua. – Eles querem saber de coisas que assustam ...

- Como assim?

- Banhos! Querem saber dos banhos! Pedem detalhes sobre as bolhas de sabão, dos xampus, dos cremes de amaciar os pelos, dos pentes, das toalhas e das orelhas – explicou a Lua.

- Orelhas? O que tem as orelhas a ver com isso? – perguntou o Kousky.

- Tudo, caro branquinho. Tudo! Quando o sabonete entra pela orelha a toalha vai atrás buscá-lo.

- Minha nossa! Imagine a luta do sabonete com a toalha! Nele faltando a cabeça e ela perdendo fios! – falou o Pingo.

- E o que você faz, Lua? – perguntou a Sasha.

- Bom, como não tenho alternativa pego um dos livros e leio pra eles. Não podem ler porque ele não tem olhos e nem ela.

- Desta vez ela se superou! Cochichou Tuca para a Tetê.

- Pois bem, menina Lua. Então nos conte o que sabe sobre o banho na Idade Média – disse tio Chicão já se colocando mais relaxado porque sabia que aquela conversa iria render muito.

- Tá certo! Vocês sempre precisam dos meus ensinamentos, dos meus conhecimentos e por isso abusam e ...

- Menos Lua! Menos! – exclamou uma Tata séria.

- Tá certo, tia Tata. Vou falar o que sei. Na Idade Média os banhos ficaram praticamente proibidos. Os cachorros ficaram fedidos, grudendos e cheio de pulgas e carrapatos. Isso porque o tal Papa Gregório I, dos anos 590 a 604, dizia que tratar o corpo – e pros cachorros, o pelo – era estar próximo, praticamente dentro do pecado. O corpo era o depósito do pecado. Pode isso? Pra ele, ter pulgas e coceiras era um passo certo para por as patas no paraíso.

- Coisa fedida e nojenta, exclamou a Lulu. – Jamais ficaria ao lado do cachorro desse tal Papa. E muito menos dele porque devia cheirar muito mal. Não tinha creolina por lá não?

- Pois é, Lulu, - continuou a Lua. – Esses cachorros sofriam muito porque só podiam tomar banho uma vez ao ano e dentro de um único barril de água onde todos entravam e se esfregavam. Os pelos eram penteados com um pó que eles acreditavam tinha o poder de limpar os fios. E os perfumes eram fortíssimos!

- Credo! Ficavam mais sujos ainda! E as pulgas? Como ficavam as pulgas? – exclamou o Teco.

- Nojentas! Mais nojentas que os mais nojentos – falou Lulu, torcendo os bigodes diante de tanto nojo. – Pulgas sujas, ensebadas e perfumadas! Imagino na hora do banho a quantidade de pulgas e carrapatos boiando na água. Argh!

- Continuando, - falou a branquinha um tanto empolgada pela importância que estava tendo nessa aula do tio Chicão – E tinha o agravante de se esconderem porque mostrar o corpo era um pecado ainda maior. Durante os outros dias, depois daquele único banho anual, eles esfregavam as partes visíveis do corpo com panos úmidos e, com isso, as doenças saiam dançando pelos corpos de todos. Imagine o que havia se sarna pululando.

- Apenas um aparte para ajudar a nossa menina Lua, ponderou tio Chicão. – No período medieval a Europa foi arrasada pela peste negra, uma doença que vem da pulga do rato. Há relatos de que matou mais da metade da população de toda a Idade Média. Contudo, os judeus não eram infectados com a mesma freqüência que os cristãos. Isso porque tinham o hábito religioso de lavar as mãos antes das refeições e tomar banhos uma vez por semana. Os cristãos morriam com facilidade porque a religião os proibia de tocar seus corpos sob a pena de pecado mortal. Podiam apenas lavar as mãos e os rostos muito de vez em quando.

- Mas que coisa besta, exclamou a Jujuba. – Que deus podia querer fiéis cheirando tão mal e morrendo por causa da sujeira? E os cachorros?

- Com pelos e patas nojentas! Malcheirosas! Argh! Me sinto mal ... falou uma Lulu pálida na ponta do focinho.

- Calma Lulu, disse o Kousky, sempre atencioso. – Tenha calma que isso é apenas uma recordação de tempos em que não vivemos. Estamos apenas aprendendo. Está muito longe de nós.

- Não é bem assim não, Kousky – explicou a Lua. – Os anos depois do período medieval foram de crenças de que as doenças entravam nos corpos por meio dos poros que seriam então dilatados se colocados em contato com a água. Daí que o banho continuou como vilão da boa saúde, sendo apenas feitos sob prescrição médica. Isso ficou se arrastando ao longo dos séculos e só mudou por completo depois dos primeiros trinta anos do século XX. Imagine que até então, tomar banho era apenas um remédio. Por volta dos anos de 1930 ...

- Mas espere aí, Lua – exclamou o Pingo. – Tenho um amigo de pelo oriental que diz que o banho sempre foi algo de bom uso em seus ancestrais. Então, isso só deve valer para o Ocidente.

- É certo, menino Pingo, explicou tio Chicão, interferindo quando percebeu a fisionomia angustiada da branquinha. – No Oriente o banho sempre esteve presente como hábito de higiene e de saúde. Os muçulmanos, desde a antiguidade, valiam-se dos relaxamentos que os banhos e as massagens davam aos corpos dos homens, feitos em luxuosas casas de banho onde havia também o branqueamento dos dentes, a depilação e a maquilagem. Já no Ocidente cristão, essas práticas eram abominadas.

- Também os cachorros dos tempos dos achamentos das Américas não eram assim, não é? – perguntou a Pipoca

- Certo, garota Pipoca. Os índios da América do Sul adoravam nadar e se banhar nas cachoeiras que abundavam nestas terras – falou Tio Chicão. – E ficavam impressionados com os cheiros dos europeus, principalmente da população portuguesa que chegava da metrópole.

- Me contaram que eles, os cachorros nativos e os índios, farejavam embaixo das saias das mulheres em busca dos animais mortos que eles julgavam lá existirem e que geravam aquele cheiro ruim – falou a Tata. – E que os portugueses apenas esfregavam a pele quando suados porque acreditavam que trocar a roupa equivalia a tomar um banho, pois as peças brancas eram tidas como absorventes como esponjas que retiravam as sujeiras. Por isso também trocavam os punhos e os colarinhos sempre que os viam sujos. Mas sempre sem banhos.

- Vou vomitar! Parem tudo que vou vomitar! – choramingou a Lulu, tendo a pata apoiada pelo Kousky.

- Posso continuar? – reclamou a Lua, nervosa por estar perdendo o poder da palavra e com isso a atenção daquela platéia. – Voltando aos anos de 1930, no Ocidente os banhos ganharam espaço, mas eram feitos nos sábados quando então quando as mães trocavam as peças íntimas das crianças. Por esse motivo é que a gente brinca que sábado é dia de banho.

- Nunca imaginei isso! – exclamou o Teco. – Sempre gostei de tomar chuva e depois de molhado rolar na lama.

- Ouvi dizer que isso deixa o pelo macio, é verdade? – perguntou a Lulu.

- Não sei não porque logo que eu me enlameava já era colocado debaixo do chuveiro, fosse qualquer dia da semana – respondeu o Teco.

- Bom, disse a Lua – depois da segunda guerra mundial, lá pelos anos de 1945, os chuveiros foram difundidos e as casas que tinham condições os adotaram, tornando o banho mais habitual. Isso aconteceu principalmente para os cachorros franceses, ingleses e alemães.

- Foram esses países que mais sofreram destruições de suas cidades pelos ataques dos inimigos e tiveram que reconstruir seus imóveis. Aproveitaram isso e construíram alas de banhos contemplando-as com água encanada, - esclareceu Tio Chicão.

- E tem mais, falou a Lua. – Nem sempre existiu o sabão, o chuveiro e o xampu. – Quando os romanos e os gregos queriam esfregar os corpos o faziam se valendo de uma espátula de ferro de mais ou menos trinta centímetros que era untada com óleo de oliva.

- Eles viravam uma salada! – falou a Tila. – Se colocasse um vinagre e um sal ...

- Pois é, Tila. Mas tinha também um arranca cascão no Oriente feito com rocha ou cerâmica que era esfregado na pele para esfoliá-las! E depois passavam água de flor de laranjeira, pastas e perfumes.

- Tá melhorando o ar deste local – exclamou a Lulu

- Você não acha que a Lua está falando muito difícil? – cochichou a Azeitona para a Tuca.

- Se está! Acho que nem todos vão entende esta historinha. Mas, é melhor isso do que a velha e boa Zambézia, certo? Respondeu Tuca

- Certíssimo, companheira! – falou Azeitona.- Certíssimo!

- As mocinhas vão continuar cochichando ou posso continuar, - reclamou a Lua colocando as patas na cintura! – Posso continuar? Ainda bem! – Então, no Egito antigo misturavam bicarbonato de sódio, cinzas e argila para fazerem uma espécie de sabão. E tinha o problema da falta de água corrente para limpar o corpo. Como faziam? Hein? Sabem?

- Com jarros e bacias, ué! – exclamou o Pingo.

- Como assim? Como assim? Onde você leu isso? Onde? Copiou de euzinha? – choramingou a Lua enquanto o Pingo percebia que havia tocado no ponto fraco da branquinha. Ela ia chorar. Ia sim! Diante desse prenúncio de tragédia, o Pingo disse que havia visto num jornal cultural que o pai havia posto no chão para ele fazer xixi. Com isso acalmou a menina peluda e branquinha. Na verdade havia lido numa enciclopédia mas ... deixa pra lá!

- É isso – terminou a Lua. – Mais alguma coisa, tio Chicão? Quer que eu explique mais? – falou a cadelinha um tanto quanto altiva e orgulhosa.

- Sim, menina Lua – disse tio Chicão.

- Ué? Mais o quê? Tem mais? Não tem não! – choramingou a filhote.

- Sempre tem mais quando se trata de história, querida criança peluda e branquinha. Vamos voltar um tantinho no tempo. – falou calmamente tio Chicão, momento em que todos silenciaram e se reuniram em torno do velho pastor alemão. Sabiam que agora era hora de aprenderem coisa e coisas que valeriam para a vida toda.

- Vamos ver coisas limpas? – perguntou a Lulu.

- Menina Lulu, a humanidade não poderia ter sobrevivido por muito tempo se estivesse presa aos hábitos de falta de higiene. Os primeiros homens do planeta sabiam da importância da água porque sentiam sede e era nela que a saciavam. Ao mesmo tempo foram descobrindo a importância da água no manejar dos utensílios que produziam e nas construções que erguiam. Porém perceberam, e deve ter sido de forma mais rápida do que podemos imaginar, que as águas também podiam ser fontes de devastação ...

- O que é devastação, tio? – perguntou a Tila.

- Devastação é o mesmo que destruição.

- Entendi!

- Pois bem. As águas vindas pelas chuvas, pelas cheias dos rios ou mesmo das geleiras podiam destruir e até mesmo matar comunidades inteiras. Se era bom estabelecer-se nas beiras dos rios, cabiam algumas providências para evitar os desastres nos tempos das cheias, como manter uma distância segura ou ocupar um patamar mais alto que o das águas. Ao mesmo tempo, aqueles rios forneciam também meios de subsistência por conta dos peixes que eram pescados. Também serviam como meio de transportes, como foi o caso de um dos mais famosos rio da antiguidade, o Nilo.

- Ah! Onde os cachorros da Cleópatra tomavam seus banhos de beleza? – perguntou a Lulu.

- Certamente, menina Lulu, disse tio Chicão com uma ponta de riso na bochecha direita. Essa menina era muito ligada às coisas da estética. Até mesmo na história. – Voltando ao nosso ponto, os rios eram essenciais ao desenvolvimento das comunidades. Eram por eles que os barcos iam e voltavam, trazendo tudo aquilo que as pessoas precisavam para sobreviver. Alguém sabe o que traziam?

- Rações? Perguntou o Pingo.

- Claro que não, Pingo, disse a Tuca. – Biscoitos sim. Muitos biscoitos e ...

- Pães de queijo! Certamente milhares de pães de queijo .... dizia uma Lua saltitando.

- Tinha vaca no Egito, tio Chicão? Se não tinha, onde pegar leite pro pão de queijo da Lua? – perguntou a Azeitona.

- Isso eu sei, - disse o Kousky. – Li num livro da minha mamãe.

- Então explique, menino Kousky, falou tio Chicão.

Kousky deu um latido baixinho pra limpar a garganta e começou: - Os animais mais comuns e presentes no Egito antigo eram os bovinos usados para puxar carros e arados que serviam para preparar a terra e separar os grãos, ao mesmo tempo em que as vacas forneciam leite para toda a família. Os templos tinham seus próprios animais que eram sacrificados para alimentar os deuses dentro de rituais onde os sacerdotes e funcionários recebiam parte da carne como pagamentos. Dessa forma alimentavam vivos e mortos.

- Esse branquinho me surpreende sempre – disse a Lua baixinho pro Pingo. E o amareludo concordou, mas explicou que o mocinho em questão era filho da tia Cris e por isso um estudante eterno como ela. A Lua concordou e ficou feliz que nos tempos do Egito antigo deve ter havido muitos pães de queijo. É sim!

- Muito bem, menino Kousky. Então voltemos para as nossas águas nos tempos antigos. O gado precisava de comida vinda de pastos e água para beber. Só por essa amostra podemos sentir a importância dos rios, que também permitiam a vinda de todos os produtos que as aldeias precisavam. E assim é nos dias atuais. Com a evolução das técnicas, novas descobertas e inventos, surgiram os diques que seguravam as águas e as desviam para evitar que destruíssem cidades inteiras. Também foram construídos reservatórios de águas onde nos tempos de seca as águas podiam continuar a irrigar as terras e abastecer as aldeias. Muitos trabalhos que eram feitos por animais foram substituídos por máquinas movidas pela força das águas, como os moinhos com rodas hidráulicas. Os novos tempos trouxeram mais adjetivos para a água.

- Mas então, se a água é isso tudo, porque os homens deixam os rios estragarem? Tem rios sem peixes! – reclamou a Tetê. – Tem móveis, garrafas pet, carcaças de carros, pneus e tanta coisa assim!

- Isso realmente é um problema dos mais graves, senhora Tetê. – ponderou tio Chicão. –Parece que a humanidade se esquece que sem água não há vida.

- Gente burra, resmungou a Jujuba entre dentes, rosnando de leve e levantando o pelo perto da cauda, sinal de que estava pronta pra morder. – Os bichos não têm nada a ver com isso e são obrigados a viverem numa água podre, cheirando a decomposição e ....

- Pare! Pare ou começo a passar mal de novo, disse uma pálida Lulu, procurando a pata limpinha e perfumada do Kousky.

- Mas é verdade isso que a Jujuba falou, garota Lulu. E é daí que precisamos falar seriamente. Temos dados de que a água está presente em 70% do planeta, mas apenas 0,3% dos recursos hídricos estão disponíveis para consumo. A água doce é pouca, porém daria muito bem para atender a todos se fosse convenientemente tratada pelos homens. A poluição e o desperdício são fatais e anulam mais e mais os reservatórios. Ao contrário do que se pensa, nem toda a água poluída pode ser recuperada.

- Mas os cachorros não podem fazer nada! – exclamou o Teco.

- Nem outros bichos, Teco. Nenhum de nós tem esse poder! Apenas os humanos podem tomar algum tipo de atitude, mas o que vemos é falarem um tantão e não fazerem nem um tantinho de nada. Saem de suas inúmeras reuniões do mesmo tamanho que entraram. – disse a Tata.

- Sempre ela! Essa Tata realmente é surpreendente, disse a Pipoca.

- É que ela freqüenta todas as reuniões sobre os problemas ecológicos do planeta. É uma cadela atuante, explicou a Tuca.

- Pois é isso mesmo meninos e meninas, explicou tio Chicão. - As autoridades mundiais calculam que uma pessoa deveria usar apenas 50 litros de água por dia, mas aqui no Brasil, por exemplo, as pessoas consomem uma média de 187 litros.

- Tudo isso? Eu bem que falei pra parar com essa história de dar banho na gente! Eu falei! – resmungou a Lua. – Tudo tem limites! É sim! Nunca vi um pão de queijo tomar banho e ...

- Lua! Por favor! Pare de navegar no queijo quente! –explodiu a Chica. – Banho em pão de queijo é demais! Voltemos ao tio Chicão e suas explicações.

- Tá certo! Mas ...

- Menina Lua, tem coisas realmente que podemos fazer para conservar a água, mas o banho, como vimos, é importantíssimo e mantém a saúde. O que podemos fazer é tomar banhos mais rápidos ...

- Isso mesmo! Banhos com um pingo apenas ... gritou a Lua.

- Um pingo! Olha só o tamanho do Pingo! –exclamou a Azeitona. – Essa Lua é sem noção!

- ... desligando o chuveiro enquanto se ensaboa. Uma ducha de oito minutos gasta 24 litros de água. O escovar os dentes e o aparar dos bigodes devem ser feitos com a torneira fechada, usando-se então apenas um copo com água. As caixas de descargas ...

- Peraí tio Chicão! Os cachorros não usam vaso sanitário! Isso não dá! – exclamou a Jujuba.

- Certo, Jujuba. Mas como este blog é lido por humanos também, convém esclarecer tudo, disse tio Chicão.

- Então ... HUMANOS ... PRESTEM ATENÇÃO! – gritou a Jujuba depois de virar seu boné e colocar a aba para trás.

- As caixas de descargas devem ser aquelas que despejam apenas um jato com até seis litros de água para tirar os dejectos ...

- ARGH! Reclamou a Lulu.

- ... a cada acionamento. Lava-roupas e lava-louças devem ser usadas apenas quando estiverem com capacidade máxima. As louças da pia precisam ter os alimentos retirados com papel absorvente que livrarão quase toda a gordura e, por isso, levarão menos detergentes para suas limpezas. Lavar roupa após deixá-las de molho no tanque para que a máquina use o mínimo de água possível. A água do molho e do enxágüe da máquina poderão ser usadas para lavar o chão do quintal. Nada de lavar calçadas. Apenas se varre porque a chuva se encarrega de limpar o pó que sobrou. Não se pode deixar nenhum lixo na rua. Eles devem ser colocados apenas na hora da recolha. Sacos deixados nas ruas acabam sendo carregados pelas águas das chuvas e entopem as galerias de recolha das águas e poluem ainda mais os córregos e os rios.

- Fica uma desgraça! Explicou uma Lulu já refeita de tanta coisa nojenta. – As pessoas precisam se conscientizar que cabe a elas tomar conta do planeta. Os bichos, as plantas e toda a natureza dependem de atitudes assim. Imagine que no apartamento do Bolinho, aquele cachorro amarelo e branco do bloco verde, tem vazamentos há anos. A dona dele diz que é apenas uma gotinha. De gotinha em gotinha ... saiu um rio de lá!

- Certo, menina Lulu. Os vazamentos são vilões silenciosos e

- ... fedidos! – Argh! – disse a Lua imitando a Lulu, mas se escondendo depois do olhar raivoso da mocinha perfumada.

- Temos também o recurso do regador e da mangueira com controle na ponta. As plantas precisam de água, mas não se pode encharcá-las. Ninguém quer matá-las. E o carro pode ficar sem banho por um mês, explicou tio Chicão.

- Aí! Ele pode! Se ele pode, por que euzinha tenho que tomar banho toda semana? Ele anda com aquelas rodas esmagando coisas nojentas, passando por cocos e xixis, amassando barros e pisando em sujeiras. Mesmo assim pode ficar tranquilamente lá, no estacionamento, sem medo de ter que tomar banho. Injustiça! – gritou a Lua. – Eu nunca me sujo e, ao contrário, limpo toda a vasilha da ração. E nem deixo cair uma migalhinha do meu pão de queijo. Nunca. A Tia Cris viu que eu limpo toda a mesa. Ela viu! Viu sim!

Tio Chicão balançou a cabeça. Não tinha jeito. Essa branquinha não desistia de uma idéia nunca. Com certeza iria se esconder no próximo banho. Filhote é assim mesmo. O importante é que todos sabiam o que deviam fazer: manter a saúde do corpo e do planeta.

Marly Spacachieri
Março/2011