quinta-feira, 21 de maio de 2009

PRA MINHAS TIAS QUERIDAS ....


PÃO DE QUEIJO


3 xícaras (chá) de polvilho doce
100g de queijo ralado
3 ovos
1/2 xícara (chá) de óleo
1 xícara (chá) de leite
1 colher (chá) de fermento em pó
sal a gosto

Modo de Preparo
Bater tudo no liquidificador e por em forminhas untadas com óleo
Só assar

A SAGA DA CHICA, UMA CADELINHA VIRA-LATA


Um dia nasceu a Chica, originalmente Francisca, mas devido ao seu tamanho tímido, mesmo se considerando sua cauda enorme e orelhas de tamanho razoável, teve seu nome reduzido. Filha de dois vira-latas só podia ser mais uma. Contudo, ainda muito jovem desgarrou-se da ninhada e quando a conheci não soube explicar de onde viera e muito menos porque ficara sozinha. Desconfio que tenha um dedo de humano nessa história de vira-latinha solta no mundo, mas como nada ficou comprovado, entendi que a Chica apenas se perdeu. Dona de um corpinho ensalsichado entre o dorso preto e a barriga dourada, Chica ao ser refletida numa poça de água viu-se como um mini-pastor alemão (claro que usando muito a imaginação). Porém, ficou pequenina e passou a ser Chiquinha. Fez beicinho ao ter seu nome tão reduzido e por isso acrescentou um “Chique” antes dele. Claro que encompridou e ao mesmo tempo mostrou uma personalidade um tanto quanto vaidosa!
Seguia a vida, a Chique Chiquinha, andando por aqui e ali até chegar num condomínio muito grande de enormes jardins e milhares de pessoas. Tudo parecia aumentado para a cadelinha que mesmo assim, resolutamente, adentrou-o. Passou por pernas e árvores, terras e pedras e sentiu fome e frio. Chuvinha fina e fria de um mês qualquer, o pêlo ficou encharcado e a barriga roncou. Tentou muitas moradias mas em vão. Durante o dia servia para brincar com as crianças dos prédios mas depois todos eles corriam para seus apartamentos e ela sobrava. Começou a desconfiar que seus dias seriam complicados por conta das gotas e dos roncos estomacais, mas se era uma legítima descendente dos pastores alemães, ainda que em tamanho reduzido, tinha sim coragem e determinação para seguir em frente. Foi ficando por perto. O tempo passou e por muitas vezes sentiu fome e algum medo inconfessado dos gatos maiores que ela, pensando até em procurar o caminho de volta, fosse lá onde fosse. Escondia-se nas vagas dos estacionamentos. Dormia sob os carros e sobre as manchas de óleo. A vida seguia seu fluxo para os humanos e para os cachorros também.
Numa tarde estava coçando-se das mordidas das pulgas – banho era algo desconhecido – quando ouviu uma voz dentro da sua cabeça. Coisa estranha e típica dos humanos; nunca soubera de cachorro ouvidor de vozes assim e – diga-se de passagem – cachorro louco é outra coisa bem diferente. Olhou para os lados e percebeu que era uma voz canina, aquela voz que um cachorro usa para se comunicar com outro em momentos de emergência. Chiquinha preparou-se porque a voz se aproximava.
De repente viu uma cadela muito maior que ela, preta e vira-lata pelos quatro costados. Teve certeza que era dali que saía o som que ouvira porque essa criatura lhe sorria e ao passar por ela recebeu um convite para visitar o lugar onde morava com seus tutores. Chica pensou estar num delírio provocado pela mortadela que encontrara no lixo e que não devia estar muito bem porque nem as moscas a queriam. Mas a cadela insistiu e puxando a guia por onde era conduzida pelo tutor se aproximou da Chica e disse “26”. Chica pensou que isso devia ser uma senha, um jogo ou algo do gênero e ficou matutando. A dupla afastou-se e de longe Chica viu que subiram as escadas e sumiu por detrás de alguma daquelas muitas portas dos apartamentos. Chica ficou sem entender. Cansada, adormeceu num tapete daqueles duros de limpar o barro dos sapatos. Dormia desconfortável quando dentro do seu sonho ouviu uma linda canção que de tão bonita a acordou. Sonambulismo ou esperança – não sei dizer – seguiu para aquele edifício onde vira a cadela subir os degraus. Percebeu que o som vinha de um dos andares. Desajeitadamente como todo cachorro que acorda e não se alonga por completo subiu e encontrou a porta fechada. Era a de número 26. Parte do mistério causado pela tal cadelona se desfazia porque ali estava o número sussurrado para dentro da cabeça da Chica.
Minha amiguinha sentou-se frente à porta e aguardou os acontecimentos. No primeiro momento foi um trovão e depois gotas enormes de chuva forte. A porta se abriu e uma moça de grandes olhos a viu. Sem pensar muito Chica tentou escapar mas foi rapidamente pega e colocada para dentro do apartamento. Que medo! Que viria agora? Nada de especial, apenas alguns cachorros sorridentes incluindo a tal cadelona. Tinha dois humanos, a moça e o rapaz que Chica já havia visto antes. Foi um certo tumulto porque a chuva aumentou e a moça fazia mais barulho que os trovões tentando achar uma caixa de papelão onde mais tarde acomodaria a Chica, forrada com cobertor. Tudo fofinho. Simples e limpinho. Chica, na hora, pensou que aquele casal não tinha muitas posses, mas a ração era boa e a água, perfeita. Dormiu ao som dos trovões, claro que depois de ter sido amplamente farejada por mais 3 focinhos, um deles um lindo cachorrinho. Tinha também uma cinza de focinho antipático, uma preta alegre e a cadelona sorridente do tal segredo “ 26”. Chica viu com espanto que ela não tinha uma das patas da frente e mesmo assim, ao contrário de muitos humanos que havia encontrado pelos caminhos, sorria feliz.
A noite foi tranqüila e Chica dormiu como nunca o havia feito antes. De manhã sentiu um certo clima solene. Os demais cachorros estavam sérios. Havia algo no ar e não era apenas o cheiro do café! Por mais que apurasse os ouvidos nada foi captado, mas que tinha alguma coisa de diferente, isso havia! As horas foram passando e Chica quase esqueceu essa sensação. Recebeu carinho, atenção e comida. Estava por demais satisfeita e pensava com seus pêlos que sentiria saudades disso tudo quando se fosse. Claro que ela iria embora. Era uma cadela nômade, sem laços e sem documentos. Contudo, ao comentar esses pensamentos com a cadelona – que se apresentou como sendo a Tata – percebeu que aquela porta da rua não se abria com freqüência. Nenhum cão saía sem a guia e conduzido por um dos humanos. Como então ela iria seguir seu caminho, seu destino, em busca de um príncipe encantado canino? O silêncio da Tata preencheu os buracos desse pensamento. Chica percebeu que estava presa e não seria fácil mudar a situação.
Entrou em desespero porque acreditava piamente no direito da liberdade canina. Jamais ficara presa em lugar algum, ao contrário, sempre era posta para fora. Acostumara-se ao frio e a chuva. Entendia que esse era o destino dos cães vira-latas. Tata lhe explicou que não era assim que a vida agia. Claro que muitos – muitos, milhares, milhões deles – cães e gatos eram abandonados ao sabor dos ventos; contudo, havia alguma exceção e ela estava num lugar desse tipo. Chica não gostou e implorou por ajuda. Queria ir embora, em busca do sonho dourado de encontrar um lindo canzarrão – modelo pastor alemão – que dela se apaixonasse e juntos dividissem os milhares sacos de lixo ao longo da vida. Além do mais, o casal de humanos já tinha quatro cães e não precisava de mais uma! Tata olhou-a bem dentro dos olhos e disse que esse casal tinha três cachorros porque um deles ficaria transparente.
Que história era essa agora? Os humanos não viam os transparentes? Ué?! Chica estava entre o preocupada e o curiosa, mas agüentou firme e não deu mostras disso. Tata explicou-lhe que os cães eram divididos entre os transparentes e os densos. Chica não entendia onde estava esse nó e Tata falou que os cães que os humanos viam eram os densos; não podiam ver os transparentes porque essa era uma atribuição apenas dos demais animais. Foi um susto para Chica saber que os transparentes não eram vistos e muitas coisas que lhe tinham acontecido agora faziam mais sentido. Mas, onde entrava a Chica nessa conversa toda? Tata explicou que como ia ficar transparente em breve podia realizar um desejo da Chica em troca de um grande favor. Que desejo? Que favor? Bom, o desejo seria dar uma relação – em linguagem canina – de endereços próximos de todos os possíveis pretendentes para a pata da Chica. Os olhos da cadelinha reluziram! Era tudo o que queria. Imaginou-se voltando para as ruas para mostrá-lo para aquelas cadelas grandonas que riram de seus sonhos, de patas dadas com o mais belo exemplar de pastor alemão. Porém, tinha o tal favor! Isso pegaria, com certeza. Aquela cadela de três patas não estava para brincadeiras.
Tata explicou que ela era a chefe da matilha – pequena e feliz – daquele casal. Era muito amada, mas recebera a incumbência de se tornar uma protetora deles, agora de forma integral e presente em todos os lugares. Para tal acontecer ficaria transparente. Sabedora da dor que causaria a sua ausência viu na Chica a possibilidade de certo consolo para eles. Bastava que nas primeiras horas Chica se mostrasse carinhosa e presente para amenizar essa mesma dor imensa. Aos poucos ele, o casal, iria se acostumando e Chica poderia sair da cena.
Não pareceu ser algo muito complicado e Chica pensou bem. Porém, a sede de liberdade que saía de dentro de si era mais forte. Chica titubeou, mas ao ver uma foto de um pastor belga – um possível pretendente – achou que poderia ficar, mas se fosse por pouco tempo. Tata garantiu que seria rapidinho. E foi. Na mesma noite Tata ficou transparente e aquele casal caiu num desespero que dava dó. Chica olhava para a Tata, agora transparente, pedindo instruções para agir. Saiu da caixa a ela destinada e pulou para cima da cama onde a moça, totalmente desesperada, chorava. Mesmo tendo chegado há pouco, Chica já nutria um calor gostoso por ela, principalmente quando teve seu pêlo alisado e penteado com maciez; e também quando uma tigela de leite morno lhe foi dado antes de dormir. Sim, aquela moça não merecia sofrer desse jeito. Uma coisa era ela não ver a Tata invisível e outra era aquele sofrimento todo. Era injusto. Os outros cachorros também estavam em cima da cama, de focinhos abaixados, tristes.
Chica pensou que aquela situação toda era ruim e por isso queria sair de lá. Ao olhar para a Tata viu a lista enorme com nomes e endereços de príncipes encantados caninos. Tinha que cumprir sua parte. Depois... estaria livre. Suspirou e caminhando lentamente para o colo da moça nele se aninhou. O calor a tornou sonolenta, contudo aqueles soluços a punham alerta. Contudo, as lágrimas da moça começaram a rolar mais forte e caíram sobre seu focinho. Chica sentiu que a sede de liberdade ficava mais fraca, mas a tristeza aumentava. Faria qualquer coisa para que a moça voltasse a sorrir. Tentou uma lambida e recebeu um grande afago. Era por aí! Imediatamente virou-se de barriga para cima e se esfregando no colo da moça fez uma enorme festa, rosnando e rolando. Os outros cachorros não entenderam o que estava acontecendo e olhando para Tata pediram explicações. Tata sorria. A moça – espantada com a atitude da Chica – deu um pequeno sorriso, apertou-a contra o coração e levantando Chica até seu rosto deu-lhe um grande beijo. Os olhos se encontraram para todo o sempre.
Chica sentiu-se feliz aconchegada naquele colo. Mais feliz ficou ao receber uns biscoitos feitos para cachorros. Depois se deitou ao lado da moça e esquentou seu corpo triste até ela dormir. Os outros cachorros se aninharam ao lado e foi um sonho só. De manhã cedinho Chica acordou em sua caixa forrada de cobertores. Encontrou um dos biscoitos que estava roído em forma de coração. Deu de focinho com o Teco, o cachorrinho malhado da matilha. Tuca se apresentou – o seu focinho já não estava antipático – como uma grande amiga e portadora da lista de nomes e endereços que era o pagamento para Chica. Os olhos da cadelinha brilharam de contentamento, mas ao verem os do Teco ... ponderou! Tila puxou sua pata convidando-a para brincar. Aí a moça veio sorridente ao seu encontro e alisando seu pêlo foi avisando que iriam ao veterinário tomar vacinas e vermífugos. Chica sentiu medo e apertando com a pata a tal lista percebeu que essa era a sua chance de escapar. Tata apareceu e lhe garantiu que a missão fora cumprida. Agora o tempo faria o resto. Para Chica escapar bastava aproveitar-se da entrada no carro na hora de ir ao veterinário e correr muito. Ninguém a pegaria. Ela tinha um tempinho para decorar a tal lista e partir em busca do seu sonho.
Passou parte do tempo lembrando de toda a sua curta vida e no tanto que recebera nas últimas horas. Pela primeira vez não sentira frio e fome, fora acarinhada e realmente querida. Sabia que fora parte decisiva no início da dura recuperação do casal, principalmente da moça. Fizera parte de uma missão importante. Participara! Encheu-se de orgulho e olhando a lista começou a achar que era muita cadelinha para aqueles simples plebeus. Será? Hum! Chegou a hora de ir ao veterinário e Tata lhe desejou boa sorte. Mas o olhar triste do Teco causou um desconforto em Chica. Pensando bem, ele muito mais bonito que muitos daqueles cachorros da lista. Ela não os via, mas podia sentir isso. Também havia a alegria da Tila para ser considerada. Onde encontraria alguém que lhe lambesse tão bem dentro das orelhas?
Entrou no carro. A moça deixou a porta semi-aberta. Era sua chance. Pensou que poderia tomar a vacina e depois ir. Isso era importante para sua saúde. Chegou ao veterinário e ele lhe examinou de cima para baixo, apertou tudo, fuçou tudo e deu seu diagnóstico: boa alimentação, sol, vacinas, vermífugos, anti-pulgas e um bom banho. Aquele “banho” não soou bem, mas o restou sim. Ganhou um grande afago da moça que disse ao veterinário ser Chica um grande presente que recebera da natureza, um ser especial, linda e querida por toda a matilha. Recebia o nome de Chiquinha e então seria a mais nova filha do casal apaixonado por cachorros. Chica se espantou porque ela já chamava Chica. Como então ....? Coisas da vida. Ganhou uma medalha com seu nome gravado, bem como o endereço do apartamento e telefone de lá. Jamais ficaria sem tutores. Jamais. Isso caiu no coração da Chica como um agasalho nas noites de frio. Entrou no carro e se acertou no banco traseiro entre as almofadas. Quando viu a Tata pediu-lhe o favor de desfazer aquele favor. Queria ficar lá. Podia? O sorriso da cadelona foi claro e preciso e antes dela ir para seus afazeres como anjo da guarda recebeu um pedido: interceder junto ao Teco a seu favor. Os filhotes seriam lindos, ela não achava?
Com o passar do tempo outros cachorros entraram e saíram da matilha. Chica ajudou a todos eles e continua ajudando, tornou-se contadora de histórias. Nunca pensou ir embora e aquela lista de príncipes encantados caninos virou uma bolinha de brinquedo para um filhotinho que foi abandonado na porta do apartamento dos tutores da Chica. É o Pingo, mas essa é uma outra história. A nossa é de que nenhum animal morre; ele fica é transparente! O tempo faz com que a gente aprenda a vê-los.

Marly Spacachieri
transcrito@yahoo.com.br