sábado, 2 de julho de 2011


ENCONTRO INTERNACIONAL PARA ESTUDOS SOBRE O QUEIJO – EIEQ

A turma estava atenta porque a Lua se aquietara desde que a mãe viajara para um congresso no Rio de Janeiro. A branquinha ficava deitada rente a porta de entrada do apartamento suspirando de tempos em tempos.  Nem mesmo ia dormir em sua caminha. Tão pouco o Fefelinho, que ela sempre tentava roubar do Bim e que lhe foi oferecido, causou algum interesse. Tio Chicão achou que depois de algum tempo a branquinha deixaria essa tristeza de lado e passaria a fazer as travessuras de sempre, mas teve que reconhecer que isso não estava acontecendo. A mãe viajara na segunda-feira e desde então a filhote não saía da beira da porta de entrada; já era quarta-feira. Dormia um tantinho, de repente acordava sobressaltada, levantava as orelhas e ameaçava abanar o rabinho para logo em seguida ficar triste e de orelhas murchas.  Suspirava e voltava a deitar.
O Pingo ficava aflito porque a filhote não queria brincar de nada. Nem mesmo veio farejar o papel do lanche do amareludo! O que será que estava acontecendo com a menina Lua? A Azeitona se aproximou dela e convidou-a para verem a paisagem da janela.

– Não quero, disse a Lua. – Não tem nada lá!

- Coisa grave, tio Chicão! – exclamou a Pipoca. – Se a Lua não quer ver a janela, tem coisa grave por perto! Nem está latindo pra faxineira lá fora! Gravíssimo! A gata da vizinha veio até a porta e miou e a Lua não se importou. Desesperador!

- Já sei! – gritou a Lulu. – Vamos pegar um pedaço de pão de queijo e oferecer a ela.

- Mas quem tem um pão de queijo, Lulu? – indagou a Tila.

- A Tuca tem. Ela sempre traz pães de queijo celestiais, daqueles perfumados, mas que não fazem mal aos cachorros porque são feitos com leite das vacas sagradas, respondeu a Tata

Na mesma hora a Tuca apareceu com alguns pães de queijo quentinhos que exalavam um aroma que despertou até o rato de pelúcia do Bim. Colocou o prato próximo da branquinha e .... nada! Apenas mais e mais suspiros tristes.

- Pelos queijos bentos do leite da vaca venerada! –exclamou o Teco. – Se ela não avançou é porque realmente está triste, sem apetite. Nunca pensei em ver a Lua desdenhar um pão de queijo.

E a branquinha suspirava e olhava a porta. Quando o telefone tocou ela levantou correndo para ficar perto do papai que o atendia. Ao ouvir a voz do outro lado da linha – e os cachorros conseguem ouvir tuuuudo – o rabo da Lua balançava rapidamente.

- É saudade da mamãe, disse a Tila. – Ela está triste porque a mamãe viajou para o Rio por causa daquela tal de Zambézia. Essa Zambézia é uma chata!

- Nada disso, menina Tila, disse Tio Chicão. – A mamãe foi fazer uma apresentação especial e precisava se deslocar para o Rio de Janeiro. Era preciso. Isso não pode deixar a menina Lua tão triste assim. Precisamos fazer alguma coisa, mas confesso que nem sei o que!

Numa última tentativa, Kousky se aproximou da filhote e convidou-a a se juntar ao povo. Ela disse:

- Nem pensar! Minha mamãe vai chegar e eu preciso estar aqui, atenta, esperando.

Deu uma dó imensa em todos os corações caninos. E se tivesse um gato, um penudo ou mesmo uma tartaruga, com certeza eles também ficariam tristinhos com a fala da branquinha.

- Tio Chicão, isso não pode ficar assim. Ela já não come há 2 dias. Vai ficar fraquinha e pode adoecer – falou a Lulu.

- Realmente, meninos e meninas, a tristeza da menina Lua está se tornando preocupante – falou o velho cão.

- É mesmo! Nunca vi a Lua rejeitar um farelo de queijo, quem dirá um pão inteiro! – falou um Pingo muito seriamente. – Temos que fazer com que ela se distraia e esqueça a viagem da mamãe. Se não for assim, vamos ter que mandar um cãolular para que ela volte rapidinho.

- Nossa, Pingo. E a Zambézia? Como fica a Zambézia? – falou a Azeitona. – Depois de tanto trabalho, de dias fazendo o tal texto, a mamãe não pode perder essa chance de apresentar a Zambézia para todo mundo.

- Isso é! A Zambézia precisa ser vista por todos – falou a Sasha.

- Mas não podemos deixar a Lua nessa situação de tristeza – falou a Tuca. – Temos que fazer alguma coisa que ela goste e que a tire desse sofrimento.

- Isso é! Mas o quê? – perguntou o Teco.

- Queijos. Muitos queijos! – falou a Tila.

- Mas ela nem quis o pão de queijo que a Tuca deu! – respondeu a Tetê.

- Podemos inventar uma brincadeira onde ela participe tanto que se esqueça da viagem da mamãe. E que dure até ela voltar – disse o Teco.

- Essa Zambézia!!! – rosnou a Jujuba. – Se eu pegá-la .... rrrrrrrr!!!

- E se a gente brincasse de escola? sugeriu a Sasha. – Ela sempre gosta de dar aulinhas!

- Não! Nem pensar! Fora com isso! – gritou a Jujuba. – Estou fora! Apesar de que ... se é para a Lua voltar a infernizar a Azeitona, eu até topo. Porém, que não se fale sobre a Zambézia.

- E se a gente fizesse um evento especial para a Lua? Podíamos pegar um assunto que ela gosta e fazer uma apresentação. Daí ela vai se envolver, se empolgar e ficar menos triste, - sugeriu a Tetê.

- Senhora Tetê, grande idéia – exclamou Tio Chicão. – E qual seria esse assunto?

- QUEIJOOOOO! Responderam todos ao mesmo tempo.

- Meninas e meninos, acho que podemos montar uma brincadeira com os queijos e a menina Lua – falou Tio Chicão. – Vamos montar um encontro de cachorros sobre os queijos. A menina Lua deve se interessar.

- Boa, tio Chicão – falou o Bim. – Mas ... como é que vamos fazer isso? Eu sei que um encontro acadêmico tem que ter apresentação de trabalhos, de pesquisas e coisas assim.

- Isso mesmo, Bim. Vamos fazer desse jeito, falando de queijos – falou a Tata. – Precisamos de um material de onde possamos tirar os trabalhos para a apresentação. Aí cada um de nós prepara a sua parte e depois vamos mostrando a todos.

- Parece bom. Na biblioteca da mamãe deve ter coisas sobre queijos – falou a Pipoca. – E depois de algum tempo podemos parar e fazer um lanchinho. Aí a Lua se alimenta.

Nem mesmo falando isso tudo conseguiram obter a atenção da Lua que continuava suspirando deitada rente à porta. A idéia parecia ser boa, mas a branquinha tinha que participar porque somente assim deixaria aquela tristeza de lado. Tio Chicão teve uma idéia!

- Menina Lua, venha cá – latiu o grandão.

Lua levantou-se bem devagar e quase se arrastando chegou perto do Tio Chicão. Orelhas baixas, focinho triste, olhinhos lacrimejantes.

- Sim, tio.

- Menina Lua. Estamos todos muito preocupados porque a mamãe viajou para o tal encontro, onde vai apresentar seu trabalho sobre a Zambézia, e soubemos que ela está infeliz porque acha que estamos tristes. Eu ouvi o papai falar com ela num tal iscáipe. Daí que precisamos fazer alguma coisa para que ela fique despreocupada e apresente o tal trabalho com tranqüilidade. A menina Lua concorda? – falou pausadamente tio Chicão.

- Claro, tio. Essa Zambézia é uma pedra nas nossas patas, mas .... a mamãe resolveu levá-la junto! Fazer o quê! – resmungou a branquinha. – Como podemos ajudar?

- Pois é, menina Lua. Pensei que poderíamos fazer um encontro do mesmo jeito, mas aqui em casa. Assim, quando a mamãe chegar iremos mostrar a ela que existem outros assuntos tão interessantes quanto os dela, que ela pode continuar estudando a Zambézia porque temos nossos estudos também. Para isso acontecer precisamos da menina Lua porque a menina Lua é quem mais conhece os gostos da mamãe – falou Tio Chicão.

- Isso é! Euzinha! É mesmo! Podemos sim! Vamos fazer um encontro para discutir ... – falava atropeladamente a Lua com o rabinho abanando e as orelhas em pé.

- Pão de queijo? - falaram todos os demais ao mesmo tempo.

- Não! Pão de queijo não se discute; se come, ora bolas – respondeu a Lua. – Vamos falar de algo mais requintado, mais acadêmico e tão saboroso quanto.

- O que pode ser então? Perguntou a Tila

- Queijos! Podemos fazer um Encontro Internacional para Estudos sobre o Queijo – EIEQ – falou apressadamente a Lua, mostrando que o caminho armado pelo tio Chicão, com a idéia da Tetê, estava totalmente certo. Ela saltava de uma pata para a outra!

- Eiequê? Que coisa ruim de falar – exclamou o Teco.

- Todo congresso, simpósio ou mesmo um encontro acadêmico tem um título – explicou o Bim. – Acho que o título que a Lua deu está muito bom porque nos encontros os participantes mostram seus estudos sem precisar concluir nada. Fica bem do nosso tamanho.

- Vamos então? – perguntou a Pipoca.

- Sim. Vamos sim! – responderam os demais.

- Meninos, vamos fazer a coisa certa. Temos que dividir as tarefas de cada um. Todos terão que fazer seus trabalhos e depois explicar aos demais. Tudo muito certo e sério. Entenderam? – falou tio Chicão. – A mamãe tem que ficar orgulhosa de nós.

- Sim! Todos gritaram, exceto a Lua, que reivindicou para si o cargo de mediadora das discussões. Ela ficaria sentada perto da porta de entrada, com as orelhas atentas nos passos que poderiam ser da mãe e, ao mesmo tempo, com o focinho nos trabalhos apresentados pelos peludos. Todos concordaram.

Durante o resto do dia a matilha se dispersou pelos cantos, cada um buscando um tema para apresentar. A coordenação ficou com Tio Chicão, responsável por fazer a introdução. O tema central escolhido era “O processo histórico do queijo” e que será apresentado na abertura do evento.

- Bem melhor que aquela tal Zambézia! Lá nem deve ter queijos! Hunf! – resmungou a Jujuba enquanto virava seu boné ao contrário e se debruçava sobre um livrinho que falava em queijos mofados.
Niterói
Maio/2011

Um comentário:

  1. Luinha.... entra nessa com tudo!!!! Você manja da parada, menina!!! Queremos ver o resto da história!!!

    Magnão!

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